Rodrigo Lopes

Rodrigo Lopes

Formado em Jornalismo pela UFRGS, tem mestrado em Ciência da Comunicação pela Unisinos e especialização em Jornalismo Ambiental pelo International Institute for Journalism (Berlim), em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário, e em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. Tem dois livros publicados. Como enviado do Grupo RBS, realizou mais de 30 coberturas internacionais. Foi correspondente em Brasília e, atualmente, escreve sobre política nacional e internacional.

Pandemia

Quem ganha e quem perde com a notícia de que Trump está com covid-19

Presidente e primeira-dama testaram positivo para coronavírus

Rodrigo Lopes

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SAUL LOEB / AFP
Trump anunciou pelo Twitter que está com covid-19

São dois os impactos imediatos de Donald Trump com covid-19. O primeiro, do ponto de vista pessoal: ele é obeso e idoso, isso o coloca em dois grupos de risco do coronavírus

A saúde do presidente tem implicações políticas, é um tema levado muito a sério nos Estados Unidos, porque uma doença põe em dúvida a capacidade de o comandante-em-chefe liderar o país, a maior potência econômica e militar do planeta. Por enquanto, a Casa Branca informou que Trump e Melania estão bem de saúde. Mas, se o quadro se complica, haverá dúvidas até sobre a realização da eleição, em 3 de novembro. A repercussão nos mercados internacionais é imediata, com as bolsas asiáticas operando em queda.

O segundo impacto é no processo eleitoral a 32 dias do pleito: com as atividades de campanha de Trump canceladas para que cumpra a quarentena, tudo indica que os dois próximos debates, em 15 e 22 de outubro, não irão ocorrer. O período de quarentena recomendado pelos médicos é de no mínimo 14 dias, o que já suspende sua participação no encontro mais imediato.

O diagnóstico positivo para covid-19 favorece ou prejudica o republicano em seus planos de reeleição? Na estratégia de campanha, atrapalha. Trump é bastante dependente dos comícios presenciais e os realizava até quinta-feira (1º) em locais abertos e fechados, com número considerável de eleitores, sem se preocupar com o uso de máscara e distanciamento social. O presidente, um showman, energiza seus eleitores a partir do corpo a corpo, é um político que precisa desse contato para conquistar votos. A ausência de Trump, em especial nos swing states, Estados que ora pendem para um lado ora para outro e que costumam definir a eleição,  é prejudicial para o sucesso da campanha.

O fato de o presidente estar infectado também traz o tema da pandemia de volta ao centro da corrida eleitoral, no momento em que estrategistas republicanos buscavam ofuscá-lo com outras pautas, como a retomada da economia, dos empregos, e a indicação da juíza conservadora  Amy Coney Barret para a Suprema Corte. Trump negou a gravidade da covid-19 e por meses dizia que era uma gripe comum - no debate de terça-feira chegou a debochar do fato de o rival Joe Biden usar máscara em público ("algo que não é muito presidencial", em suas palavras). 

Agora, Trump se junta aos mais de 7,3 milhões de americanos que contraíram o vírus. A mensagem que passa é de que ele foi, no mínimo, irresponsável, colocando a si próprio e a outras pessoas em risco.

Apesar de tudo indicar que Trump perde com a notícia, há, por outro lado, a possibilidade de ele usar o vírus para construir uma narrativa de vitimização que pode torná-lo um herói para seus eleitores. Em quarentena, o presidente, que usa o Twitter de forma compulsiva, deve disparar dezenas de mensagens culpando a China pela pandemia. Se isso não alimentar teorias conspiratórias, ao menos reforçará a ideia do inimigo externo, um discurso que cola muito bem em sua base eleitoral - embora dificilmente conquiste novos votos. 

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