Faltando 35 dias para a eleição, Donald Trump e Joe Biden se enfrentaram na noite desta terça-feira (29), no primeiro debate da eleição. Abaixo, 10 pontos sobre o duelo, na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, Ohio.
1 Clima quente
O debate começou com muita gritaria e interrupções por parte de Trump, que não permitia que Biden completasse os argumentos. A tática de inviabilizar o debate, atacando sempre, é conhecida forma de o presidente intimidar o rival. Biden acusou o golpe. Não completava frases, fechava os olhos e ria de forma irônica. Faltou energia.
2 Suprema Corte
A indicação de Amy Coney Barrett à Suprema Corte por parte do presidente Donald Trump foi o primeiro assunto entre os temas pré-acordados. Biden pontuou que a magistrada é contra o Obamacare e, portanto, coloca os direitos das mulheres em xeque. O assunto da indicação às vésperas da eleição descambou, assim, para a saúde.
- Ganhamos a eleição e temos o direito de escolher - disse Trump, em elogios a indicada à Suprema Corte.
Puxar o tema da saúde foi uma estratégia de Biden de atrair o rival para a questão da covid-19, calcanhar de Aquiles de Trump. No entanto, o democrata apenas citou os mais de 200 mil mortos pela pandemia, mas não conseguiu explorar o tema a ponto de intimidar o presidente. Perdeu a oportunidade.
3 Moderador
Chris Wallace, da Fox News, teve muitas dificuldades para pôr ordem na casa, diante das interrupções frequentes (e irritantes) de Trump, que foi advertido várias vezes - inclusive com uma pergunta do moderador sobre por que ele não conseguia cumprir as regras do debate acordadas por seus chefes de campanha (dois minutos de resposta e sem interrupções). Trump atropelava Biden enquanto ele falava, como fez com Hillary Clinton em 2016.
A técnica dos microfones sempre abertos não contribuiu para o confronto de ideias. O debate se resumiu a frases curtas, slogans e chavões na primeira meia hora.
4 Ataques pessoais
Biden chamou Trump de mentiroso e palhaço. Trump tentou questionar, indiretamente, a sanidade de Biden, dizendo que ele esqueceu o nome de sua universidade. O republicano também fez ataques pessoais, dizendo que um dos filhos do rival, Hunther, foi viciado em cocaína. Foi um dos poucos momentos em que Biden olhou diretamente para Trump e defendeu o filho.
Foi o primeiro tema em que Trump não interrompeu Biden. Mas o democrata perdeu nova oportunidade de emparedar o presidente. Na sua vez, Trump usou o “dr. Fauci” (Anthony Fauci, epidemiologista membro da força-tarefa da Casa Branca no combate à covid-19), que teria dito que o o presidente “salvou milhares de vidas”. Fauci foi escanteado nos primeiros meses da pandemia no território americano.
6 Gestos
Biden quase não olhou para Trump. Nas respostas, dirigia-se ao moderador. Trump não tirava os olhos de Biden. O presidente estava mais nervoso do que o habitual, mas conseguia mostrar mais segurança e energia do que Biden. O democrata só melhorou o desempreno na segunda parte do debate. Parecia mais concentrado.
7 Economia
Trump não soube aproveitar o melhor momento que teve, quando o tema era economia. Sobre a declaração de Imposto de Renda, o moderador perguntou se ele havia pago ao fisco US$ 750 nos anos de 2016 e 2017. Trump respondeu:
- Não. Paguei milhões.
E ninguém questionou. Ficou por isso mesmo.
8 Questões raciais
Nos últimos 40 minutos, o nível do debate melhorou um pouco - bem pouco. Houve menos interrupções. Mais ideias. Mas muita superficialidade. Biden fez no tema das questões raciais sua melhor fala. Estava mais articulado, criticou o racismo e a brutalidade policial, assuntos que interessam ao eleitor moderado e independente, especialmente àqueles que escolheram Trump em 2016. O presidente repetiu o lema da "lei e da ordem", demonstrando como encara a questão racial (de forma racista) e não condenou os supremacistas brancos. Tergiversou.
9 Mudanças climáticas
Assim como não condenou os supremacistas brancos, Trump não admitiu evidências científicas sobre aquecimento global. Disse que é um problema de gestão das florestas. Foi quando o Brasil apareceu no debate, citado por Biden. Ele falou em "consequências econômicas significativas" se o país não cuidar da Amazônia. Foi um recado claro de como devem ser as relações entre o governo brasileiro e o democrata, se eleito.
10 Integridade da eleição
Último tema foi “integridade da eleição". Biden disse que não há evidências de fraude nas eleições. Respondeu sobre um dos temas preferidos de Trump (a possibilidade de irregularidades nos votos pelo correio) sem que ele tivesse falado primeiro. Levantou a bola. Trump insistiu na tese da fraude nas eleições. Eis aí um sinal claro de que a disputa não vai terminar na noite do dia 3 de novembro. É impressionante como Trump deslegitima o processo eleitoral americano. Foi uma fala perigosa para a democracia.