Em texto intitulado “Editorial proibido: vacina Sputnik como salvadora da parceria global”, a agência de notícias estatal russa Sputnik divulgou a versão do Kremlin sobre a imunização anunciada nesta terça-feira (11) pelo governo de Vladimir Putin e rebate o ceticismo com que a notícia foi recebida pela comunidade científica internacional.
O editorial é assinado por Kirill Dmitriev, presidente do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, responsável pelo financiamento das pesquisas para o produto).
O texto se propõe a contar “a história por trás da criação da vacina contra a covid-19" e enfatiza "o desejo da Rússia de cooperar com a comunidade internacional”. Segundo o próprio artigo, “tal editorial foi rejeitado pela mídia ocidental”.
A primeira parte do texto estabelece um paralelo entre o registro da vacina contra o coronavírus e o sucesso soviético de 1957, quando o país lançou Sputnik, o primeiro satélite da humanidade: “O momento Sputnik aconteceu”, diz. Também ressalta que disputas como a corrida espacial, durante a Guerra Fria, não geraram apenas competição, mas esforços cooperativos, incluindo a missão conjunta Apollo-Soyuz realizada por EUA e União Soviética.
No longo texto, o editorial destaca que, “ao invés de olhar para a ciência por trás da comprovada vacina adenoviral e vetorial, testada e desenvolvida pela Rússia, alguns políticos e mídias internacionais decidiram focar na política e nas tentativas de minar a credibilidade da vacina russa”.
O texto sugere: "Acreditamos que tal comportamento é contraprodutivo e apelamos por um ‘cessar-fogo político sobre as vacinas em face da pandemia da covid-19’”.
Na seqüência, descreve o longo conhecimento adquirido pela Rússia no campo de vacinas, desde que a imperatriz Caterina, a Grande, em 1768, recebeu a primeira imunização contra a varíola no país. Em seguida, o texto passa a detalhar - pela primeira vez publicamente - o processo para a confecção da vacina russa. E promete que os resultados dos testes clínicos serão publicados "ainda este mês, de acordo com exigências internacionais".
“Tais documentos proverão informação detalhada sobre a vacina, incluindo os exatos níveis de anticorpos mostrados tanto por diversos testes de terceiras partes como pelo teste do proprietário Centro Gamaleya, os quais identificam os anticorpos mais eficientes no ataque à espiga do coronavírus”.
A falta de transparência russa sobre o processo para comprovação de segurança e eficácia da vacina, sobre os testes e a ausência de publicação científica pelos pesquisadores são os principais pontos que fomentam o ceticismo da comunidade internacional sobre o anúncio de Putin, nesta terça-feira (11).
Ao final, o texto de Dmitriev destaca que não é a primeira vez que a Rússia encara a desconfiança sobre sua liderança na ciência: “Hoje, a política está novamente no meio do caminho da tecnologia russa, a qual pode salvar vidas no mundo”.
O site Sputnik, onde o texto foi publicado originalmente, pertence à agência de notícias do governo russo. O veículo de comunicação foi criado pelo Kremlin e fez robustos investimentos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, com a criação de uma versão em português, como mostrou GaúchaZH em dezembro do ano passado. A agência se propõe a fazer oposição à narrativa ocidental dos fatos.