É interessante pensar como será o mundo quando Vladimir Putin, quando terá 71 anos, pisar na Praça Vermelha, como um ser humano comum. Afinal, quase todos os grandes assuntos geopolíticos do planeta tem e continuará tendo alguma influência russa.
Quando cruzar os portões do Kremlin, ao final do mandato de mais seis anos que acaba de consolidar neste domingo, poucos lembrarão da Copa do Mundo de 2018, mas,alguns imbróglios das relações internacionais devem seguir tirando o sono dos analistas.
A matança na Síria, por exemplo. Putin faz vistas grossas aos desmandos de Bashar al-Assad. Por trás da mão pesada do ditador, está o todo-poderoso líder russo que ordena quando e onde haverá cessar-fogo ou carnificina. Se a Síria não acabar até 2024 como país, sua política (e quem sabe sua soberania) estará certamente nas mãos da Rússia. Tartus, única base naval russa no Mediterrâneo, será apenas uma das muitas unidades militares do Kremlin no Oriente Médio.
Na questão da Coreia do Norte, Putin age menos do que a China como fiel da balança da crise, mas dada a fronteira com a nação comunista, pouco interessa uma guerra na região. Kim chamou Donald Trump para a mesa de negociações, mas só. Até agora, não se sabe data, local e sequer se o encontro sairá. Temos bons motivos para pensar que, daqui seis anos, com Trump já tendo encerrado seu mandato e Kim provavelmente firme e forte em Pyongyang, ainda ouviremos falar dos arroubos nucleares do extremo oriente. E Putin pode ganhar relevância na região.
Consolidado todo-poderoso neoczar da Rússia, o presidente que se igualará a Stalin em tempo de poder continuará a expandir seus tentáculos não apenas na América do Sul — onde os EUA deixaram um vácuo —, mas principalmente em antigas zonas de influência soviética. É estratégico fazer um colchão de proteção em relação aos interesses da União Europeia e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Novas Crimeias podem surgir, resolvidas com a tática do canhão.
Canhão, aliás, que Putin tem legitimidade das urnas para usar contra o terrorismo. Em tempos de Copa do Mundo, nada preocupa tanto o Kremlin quanto a ameaça de grupos separatistas do Cáucaso ou remanescentes de Síria. Um atentado em meio ao evento é muito mais possível e provável do que na época do Mundial no Brasil. Pode-se esperar o recrudescimento das leis antiterrorismo, um Estado policial, censura à imprensa e perseguição de opositores, como traidores da pátria.
O voto em Putin foi o voto na segurança em meio a mares turbulentos do século 21. É a confiança em um homem (mesmo para quem não gosta dele) que resgatou o país da década de caos dos anos 1990 pós-esfacelamento da URSS. Significa estabilidade. E, sobretudo, o restabelecimento do orgulho nacional. Putin fez a Rússia grande de novo. Ou, ao menos, faz com que ela apareça assim ao olhos do mundo.