O Tratado de Céus Abertos, que os Estados Unidos abandonaram nesta quinta-feira (21), tem quase 30 anos. Foi estabelecido em 1992, e nada mais é do um acordo que permite a um outro país sobrevoar com aeronaves de observação (drones, por exemplo) o seu território e monitorar o que está ocorrendo no solo - como garantia de que um governo, por exemplo, não está preparando uma ação militar.
O documento foi assinado em Helsinque por 24 membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento na Europa (OCDE). Na época, o presidente americano era George H. Bush.
Na prática, é uma questão de desenvolver transparência e confiança mútua, procedimentos que foram adotados após o fim da URSS e desenvolvidos com o término da Guerra Fria. No caminho de um mundo interdependente e multilateral. No entanto, interdependência e multilateralismo são palavras que não fazem parte do vocabulário do governo Donald Trump, que fez da America first e do isolacionismo sua plataforma de campanha em 2016 e, de forma coerente, regiram seu mandato. Agora, prestes a buscar um segundo período na Casa Branca, Trump intensifica as medidas unilaterais. Embora possa se imaginar que haja todo um arcabouço estratégico em torno da medida, há também aspectos curiosos: alguns dizem que o presidente teria ficado irritado com um voo russo sobre seu campo de golfe em Bedminster, New Jersey, em 2017.
Teorias da conspiração à parte, voltemos ao mundo real. Trata-se do terceiro movimento de recuo do governo em tratados históricos de controle de armas. Trump desfez o acordo nuclear com o Irã, costurado no mandato de Barack Obama, e saiu do acordo das Forças Nucleares de Alcance Intermediário. O primeiro garantia que o país dos aiatolás não desenvolveriam armas nucleares - fator de preocupação mundial e que o governo Trump alega que o Irã não está cumprindo. O segundo é bem mais antigo, data de 1987, e bem mais emblemático. Foi assinado pelos presidentes Ronald Reagen e Mikhail Gorbachev. O INF, como é conhecido o Intermediate-Range Nuclear Forces, previa a eliminação dos mísseis balísticos e de cruzeiro, nucleares ou convencionais, cujo alcance estivesse entre 500 e mil quilômetros. Como argumento, o governo Trump afirma que a Rússia posicionou um sistema de mísseis, 9M729, cujo alcance, segundo os americanos, supera os 500 quilômetros.
O pano de fundo é a desconfiança. Resultado: só há um acordo assinado por Estados Unidos e Rússia no campo do desarmamento ainda de pé: New Start, que limita a 1.550 mísseis nucleares cada um.
Ao desmontar, um a um, tratados históricos e que erigiram a segurança internacional no mundo pós-Guerra Fria, os Estados Unidos deixam o mundo mais próximo de uma guerra. O que pode estar por trás desse movimento, além do isolacionismo, uma tentativa do governo americano de trazer a China para a mesa de negociações. Pequim, não custa lembrar, tem um arsenal nuclear com um quinto do tamanho do americano e do russo e vem ganhando protagonismo no cenário geopolítico.