A Nova Zelândia é um exemplo interessante de combate ao coronavírus. Primeiro pela abordagem adotada pelo governo desde o início da pandemia: a meta não foi a contenção da doença, mas sua eliminação. Assim, enquanto a maioria dos países buscava “achatar a curva” para não colapsar as UTIs dos hospitais, na Nova Zelândia, o governo da primeira-ministra Jacinda Ardem, optou por “destruir a curva”.
Fechou fronteiras e impôs o confinamento de toda a população por um mês. Parece uma estratégia semelhante à adotada em outras nações, mas não é. Quando se busca a mitigação ou contenção da doença, as restrições aumentam conforme a epidemia progride, na tentativa de achatar a curva de infecções. Foi o que fizeram as nações da Europa e da América.
A estratégia de eliminar a curva inverte a ordem, introduzindo medidas mais agressivas no início da propagação da doença. Assim, elimina-se cadeias de transmissão.
O país começou a aplicar a quarentena a todos os viajantes vindos do exterior em 15 de março. Quatro dias depois, fechou fronteiras. Chama a atenção que essas medidas foram adotadas antes das transmissões comunitárias. O fato de a Nova Zelândia ter um território pequeno, composto por duas ilhas, facilita as restrições ao deslocamento e controle de áreas. A população também é relativamente pequena: 4,8 milhões de habitantes (menos da metade da população do Rio Grande do Sul).
Com relação ao confinamento rigoroso também destaca-se o constrangimento a que são expostas pessoas que desrespeitam as medidas. Uma linha de telefone da polícia recebeu centenas de queixas de vizinhos apontando quem estava violando as regras. O próprio ministro da Saúde, David Clark, foi rebaixado do cargo após ser descoberto que ele foi à praia com a família em meio ao confinamento. Por pouco não foi demitido.
Nesta quinta-feira (16), a Nova Zelândia registrava 1.084 casos e nove mortes. Desde 2 de abril, a curva de infectados vem caindo abruptamente. Naquele dia, eram 76 casos confirmados em 24 horas. Agora, são seis.
Enquanto países discutem o dilema entre salvar vidas ou a economia, o governo de Jacinda inovou. A primeira-ministra, ministros de seu gabinete e executivos dos serviços públicos decidiram cortar 20% de seus salários pelos próximos seis meses. O dinheiro será doado para ações de combate à covid-19.
A ação por si só não vai salvar o caixa do governo, mas a medida tem o objetivo, segundo Jacinda, de dar exemplo de austeridade neste momento difícil. O salário da primeira-ministra é de 39,2 mil dólares neozelandeses, o equivalente a R$ 123,6 mil mensais. Já os ministros têm rendimento mínimo de 20,8 mil dólares neozelandeses (R$ 65 mil). A imprensa local estima que o total da doação do primeiro escalão chegará a 1,6 milhão de dólares neozelandeses (R$ 5 milhões).