A sete meses da eleição, Donald Trump faz uso político da pandemia para alavancar sua política anti-imigração, principal bandeira de sua vitória em 2016.
O presidente republicano vai terminar o mandato sem ter cumprido a promessa de construir o muro na fronteira com o México. Mas como o slogan "América para americanos" é música para os ouvidos de seus eleitores, Trump tem usado decretos para tentar dificultar a vida dos estrangeiros que vivem nos Estados Unidos.
O coronavírus, que Trump chama de "inimigo invisível", tem servido de argumento para fechar ainda mais o país. Nesta quarta-feira (22), o presidente assinou o decreto que suspende a emissão de green card, documento que garante a residência de estrangeiros. A decisão vale por 60 dias.
- Ao fazermos uma pausa, ajudaremos a colocar os americanos desempregados em primeiro lugar na fila para os empregos - justificou.
É sinal de que o alerta vermelho soou na Casa Branca. A pandemia já provoca estragos na economia e deve elevar os até agora baixos índices de desemprego, que o presidente pretendia cultivar até novembro.
A medida soma-se a várias outras adotadas nesses três anos que modificam pilares do sistema migratório do país - embora a reforma total, outra promessa de campanha, também não tenha sido cumprida devido aos embates com os democratas no Congresso. A coluna contabilizou oito decisões anti-imigração do governo Trump (algumas não se concretizaram por falta de habilidade política, dinheiro ou porque foram barradas pela oposição ou pela Justiça):
1 - Na campanha de 2016, Trump prometeu construir um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México para impedir a entrada de migrantes ilegais provenientes da América Latina. De janeiro de 2017 até agora foram construídos apenas 177 quilômetros dos 800 quilômetros da barreira prometida.
2 - Em junho de 2017, por decreto, Trump restringiu a entrada de cidadãos de sete nações predominantemente muçulmanas - Síria, Líbia, Sudão, Irã, Somália, Iêmen e Iraque. A decisão foi suspensa pela Justiça.
3 - Trump tentou acabar com o Daca (Deferred Action for Childhood Arrivals), que beneficia 700 mil jovens que entraram sem documentos nos EUA com os pais quando eram crianças. O programa do governo Barack Obama concede permissões de trabalho temporária para essas pessoas e impede que sejam deportadas. Continua funcionando graças a uma decisão judicial, mas está limitado aos já atendidos pela iniciativa.
4 - Em 2018, Trump determinou que todos os estrangeiros que são detidos por não terem visto de entrada e permanência no país devem ser processados criminalmente. Com isso, os adultos passaram a ser levados a presídios e os menores, separados dos responsáveis, retidos e levados para abrigos. Imagens de crianças separadas de seus pais e atrás das grades chocaram o mundo.
5 - Em 25 de janeiro de 2019, Trump implantou o programa Permaneça no México (cujo nome oficial é Migrant Protection Protocols, MPP). A medida estabelece que imigrantes sem documentos - exceto mexicanos - que chegam aos EUA, por terra, vindos do México sejam mandados de volta para o outro lado da fronteira enquanto esperam a tramitação de seus pedidos de asilo na Justiça americana.
6 - Em agosto de 2019, o governo publicou novo regulamento que dificulta o processo para obter permissão de residência para imigrantes legais pobres. Por elas, são rejeitados os pedidos de vistos temporários e de residência para pessoas que tenham rendimento abaixo de determinados níveis ou que estejam recebendo auxílios públicos, como cupons para compra de comida, auxilio moradia ou seguro-saúde.
7 - Também em agosto do ano passado, nova regulamentação permite que os agentes fronteiriços detenham por tempo indefinido famílias imigrantes - que não tenham documentos americanos, anulando o acordo que obriga os menores detidos a serem postos em liberdade após 20 dias. Uma juíza federal boqueou a medida.
8 - Em março de 2020, o Departamento de Estado suspendeu todos os serviços de vistos para imigrantes e não imigrantes na maioria dos países - inclusive no Brasil. A decisão foi justificada como forma de tentar conter a propagação do coronavírus nos EUA.