Você deve lembrar das trágicas cenas de algumas semanas atrás em Guayaquil, no Equador: corpos nas calçadas ou dentro de casa, até sete dias, porque o sistema funerário entrou em colapso devido à pandemia do coronavírus, agravada por um surto de dengue.
Agora, o Peru pode se tornar, nos próximos dias, o novo Equador. Se olharmos o número de infectados com a covid-19, já passou o vizinho (16,3 mil, enquanto o Equador contabiliza 10,3 mil) e é hoje o segundo país da América Latina com maior registro de casos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O total de mortos ainda fica abaixo (445 contra 520).
Maior país do subcontinente, o Brasil é o que registra mais casos (43.079 infectados e 2.741 mortes, conforme balanço do Ministério da Saúde na terça-feira, 21). O Chile também superou o Equador em número de infectados (10.832), sendo a terceira nação latino-americana em notificação de covid-19. Mas mantém baixo o total de óbitos (147).
Um mês depois de instaurar a quarentena, cidades como a capital, Lima, enfrentam colapso em hospitais e crematórios. A metrópole chora mais mortes até agora (139) do que todo o Chile (179).
Com 12 milhões de habitantes, Lima tem percentual bem abaixo de leitos de UTI com ventiladores na comparação com outras capitais latino-americanas. São quatro por cada 100 mil pessoas. Na província de Guayas, onde fica Guayaquil, no Equador, e que colapsou em poucas semanas, são o dobro - 8,1 para cada 100 mil. Em Bogotá, são sete para 100 mil e em Santiago, que tem dado exemplo de contenção do vírus no subcontinente, 27,2 para cada 100 mil.
O site de notícias La Voz de Peru publicou uma foto de centenas de pessoas tentando fugir de Lima e retornar para seus povoados de origem por problemas econômicos em razão das medidas restritivas de abertura do comércio e de deslocamento, algumas delas bastante rígidas - como a proibição de saídas de homem e mulher de uma mesma família ao mesmo tempo para ir ao mercado.
- Aqui, em Lima, não há trabalho, já não há forma de pagar pela comida - contou uma mulher.
Guayaquil segue sendo a cidade com o panorama mais preocupante. Os dados oficiais informam 232 mortos, mas o governo admite subnotificação. Nas últimas semanas, autoridades fizeram uma força-tarefa recolhendo corpos em residências. Mais de 700 foram retirados - embora não esteja claro qual foi a causa da morte dessas pessoas.