WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente Donald Trump anunciou nesta terça-feira (21) a suspensão temporária da emissão do green card, visto que garante a residência de estrangeiros nos EUA, e inaugurou um novo - e sem precedente - capítulo de sua escalada nacionalista e anti-imigração no país.
Em entrevista coletiva na Casa Branca, Trump afirmou que a decisão terá validade por 60 dias, podendo ser estendida, e servirá para proteger o emprego dos cidadãos americanos diante da pandemia do coronavírus, que já atingiu mais de 816 mil pessoas e deixou 43,9 mil mortos nos EUA.
"É errado e injusto que americanos sejam substituídos por estrangeiros [em seus trabalhos]", afirmou o presidente, acrescentando que a restrição a imigrantes também vai garantir que "recursos médicos" sejam destinados prioritariamente aos cidadãos do país durante a crise.
Segundo o jornal The New York Times, porém, haverá exceções às novas regras do governo, que ainda poderão ser questionadas na Justiça, como a permissão de residência a trabalhadores de setores essenciais e a núcleos familiares, como filhos e cônjuges.
Apesar disso, a medida fechará o caminho para a obtenção do status legal permanente no país para a maioria dos outros estrangeiros, incluindo familiares dos já portadores de green card e aqueles que requisitam o documento com base em oferta de emprego.
Trump havia anunciado na noite de segunda-feira (20) que assinaria uma ordem executiva para suspender temporariamente a imigração nos EUA, mas não tinha dado detalhes logísticos ou legais sobre o decreto. A postagem nas redes sociais, como é habitual do presidente, pegou de supresa diversos assessores, que correram para finalizar o texto em uma batalha interna sobre qual seria a real extensão das medidas.
"À luz do ataque do Inimigo Invisível [o coronavírus], bem como da necessidade de proteger os empregos de nossos grandes cidadãos americanos, assinarei uma Ordem Executiva para suspender temporariamente a imigração para os EUA", escreveu Trump no Twitter.
Com os ataques ao sistema imigratório refletidos em política de Estado, o presidente acena à sua base eleitoral conservadora com a promessa de que os empregos ficarão prioritariamente nas mãos dos americanos durante a crise --o voto nos EUA não é obrigatório, mas é permitido somente para quem tem cidadania americana.
Em campanha à reeleição, Trump tem medo das consequências que danos econômicos da pandemia possam causar nos seus planos de ser reconduzido à Casa Branca.
Nas últimas quatro semanas, cerca de 22 milhões de americanos pediram acesso ao seguro-desemprego no país, e mais de 70% das pessoas dizem que a crise já diminuiu sua renda familiar.
Durante a tarde desta terça, houve especulações sobre o verdadeiro escopo das medidas de Trump. Era esperado que profissionais de saúde, trabalhadores rurais e de outros setores considerados essenciais, por exemplo, não fossem afetados pelo decreto, após a repercussão negativa entre empresários que não queriam perder o acesso à mão-de-obra estrangeira.
Auxiliares do presidente, porém, não descartam que ele inclua estes ou outros perfis de trabalhadores em novas fases de sua retaliação aos imigrantes.
Desde o meio de março, quando a crise do coronavírus piorou nos EUA, Trump tem aproveitado para atacar pilares do sistema migratório do país.
Agiu para impedir que requerentes de asilo e imigrantes sem documentos entrem nos EUA, o que alarmou advogados e especialistas. Para eles, o presidente está se valendo da crise global para promover políticas muito restritivas em relação aos estrangeiros.
A política é uma das principais bandeiras de Trump desde sua primeira campanha à Casa Branca, em 2016. O líder republicano chegou à presidência com a promessa de construir um muro na fronteira dos EUA com o México, o que não se concretizou.
Em seus três primeiros anos de mandato, Trump apertou o cerco contra entradas regulares e irregulares de estrangeiros no país. Apoiadores de Trump transformaram a frase "construa o muro!" em um bordão presente nos comícios do Partido Republicano.
Em março, o Departamento de Estado americano suspendeu todos os serviços de vistos, para imigrantes e não imigrantes, na maioria dos países do mundo.
A decisão, justificada como forma de tentar conter a propagação do coronavírus nos EUA, impactou centenas de milhares de pessoas.
Nesta terça, antes das informações sobre a suspensão do green card começarem a circular na imprensa americana, integrantes da diplomacia dos EUA afirmavam que a ordem executiva de Trump não provocaria alterações substanciais na atual política de imigração do país, já que os serviços de rotina de vistos --que incluem imigrantes e não-imigrantes-- estavam suspensos em todas as embaixadas e consulados dos EUA desde o dia 20 de março.
Os funcionários consulares acreditavam que a interrupção dos vistos seria temporária, enquanto durasse a fase mais crítica da pandemia, e que não significaria que as pessoas não conseguiriam mais obter documentos para viver nos EUA.
O Departamento de Estado americano emitiu cerca de 460 mil vistos de imigrantes no ano passado, enquanto 580 mil green cards foram aprovados a estrangeiros que apresentaram solicitação para residir nos EUA, segundo o governo americano.