Um estouro forte, um clarão e chamas. Essa é a sequência relatada por quem estava na pousada na Avenida das Hortênsias, no bairro Avenida Central, em Gramado, na manhã de domingo (22). Pouco depois de 9h15min, um avião deixou o aeroporto de Canela e caiu em uma loja de móveis na área, colidindo com o outro estabelecimento. Dez pessoas, todas passageiras da aeronave, morreram e outras 17 ficaram feridas.
Antes de chocar-se completamente com a loja e a pousada, o avião assustou a vizinhança. Após bater na chaminé de um prédio em construção, a aeronave arrancou parte do telhado de uma outra pousada e passou "raspando" do teto de uma residência. Quem sentiu esse último ato antes da colisão foi o morador da casa, Jaime Sebastiani, 73 anos.
— Estava assando um coraçãozinho, um salsichão, quando começou aquele ronco do avião. Eu vi que era uma coisa meio fora do comum. Muito barulho. Ele veio e deu um estouro. E aí, notei que caiu o avião. Foi um estrondo. Tremeu tudo e deu um clarão. Depois, eu vim na rua ver — relembra o morador, que também deu o relato ao repórter Lucas Abati, no programa Atualidade, da Rádio Gaúcha.
Sebastiani conta que sentiu todas as portas de casa tremer com o impacto. Já na pousada, acompanhado destas sensações, hóspedes viram chamas e muita fumaça. A turista Jessica Carolina Silva Maia, 35 anos, estava no apartamento 202 com a família. Ela conta que a aeronave pegou na parede do quarto:
— Nós escutamos um estrondo, um barulho muito grande, e escutamos muita gritaria. Nós levantamos correndo. Meu marido foi no banheiro e veio um clarão. Depois, começou já a quebrar tudo, box, janela, tudo. Meu marido correu na janela do quarto e na hora que abriu, subiu aquele vermelhão. O fogo já estava muito alto.
Ela, o marido Tiago Lima da Silva Félix, 34, e a filha Maria Isis Silva Maia, 5, saíram do quarto apenas com a roupa do corpo e mal conseguiam enxergar por conta da fumaça. Após conseguiram descer as escadas, gritaram por socorro e se depararam com uma mulher em chamas. Ao chegarem no posto de combustíveis ao lado da pousada para pedir ajuda, Jéssica viu os restos mortais de uma pessoa. Nesta segunda (23), como já estava programado, retornam para casa, em Belo Horizonte (MG) após passarem a semana em Gramado.
— Estou voltando para BH muito abalada emocionalmente porque era uma viagem dos nossos sonhos. Foi uma viagem perfeita até então, mas infelizmente aconteceu essa tragédia que mexeu com o nosso emocional. Mas, agradecemos a Deus a todo momento pelo livramento. Pedimos a Deus pelas pessoas que estão internadas e pedimos também a Deus para acalmar o coração daquelas que se foram — afirma a turista.
Experiência semelhante passaram os turistas Marco Aurélio Mendonça, 38, Laura Cassiano Mendonça, 35, e o filho Ícaro Mendonça, oito. A diferença é que eles estavam no restaurante da pousada, também no segundo andar, quando a colisão aconteceu. Assim como a outra família, eles foram ao posto de combustíveis. Depois, tiveram ajuda no hotel em frente à pousada.
— Acho que nós fomos os últimos a descer. Nós já estávamos no pé da escada e conseguimos segurar forte ele (o filho). E aí, descemos e já estava tudo quebrado nos corredores. Fomos correndo. E tinha uma pessoa na minha frente pegando muito fogo, é a pessoa que teve mais queimaduras. Mas a cozinha pegou fogo totalmente. Na hora que eu desci as escadas de frente com a cozinha, ela estava toda em chamas. Nós já fomos tirando a roupa, tentando apagar ela — descreve Laura.