Treze oficiais brasileiros embarcam neste sábado para um dos países mais perigosos do mundo. Especializado em guerra na selva, o grupo irá integrar a Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco). Eles vão permanecer no país por seis meses. O Congo abriga a mais importante e complexa missão da ONU, onde ataques aos capacetes azuis não são incomuns.
Os instrutores militares brasileiros, todos eles formados pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva, Cigs, de Manaus, viaja diretamente para a cidade de Beni.
O atual force-commander da Monusco é um general brasileiro, Elias Rodrigues Martins Filho, que lidera 16,2 mil soldados. Outro brasileiro já comandou a missão, o general e agora ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz.
No grupo que chega ao Congo no domingo, o único gaúcho é primeiro sargento do Exército Valderson Leal Dutra, 39 anos, natural de Bagé, no sul do Estado. Atualmente, ele está lotado no 3º Regimento de Cavalaria Mecanizado (3º RCMec), na mesma cidade. Antes de embarcar, ele concedeu a seguinte entrevista à coluna:
Qual a sua expectativa em relação à missão na Monusco?
A minha expectativa é a melhor possível. A equipe está preparada para contribuir com o aprimoramento das tropas da ONU que estão deslocadas lá. Será uma experiência profissional e pessoal impar, que muito contribuirá para os dois lados, para a República Democrática do Congo, que será a grande beneficiária dos resultados alcançados, e para o Brasil que terá mais uma vez a oportunidade de mostrar o valor e a capacidade de seus militares no cenário das Nações Unidas. O ganho final será, sem dúvida, muito positivo.
Como foi o treinamento?
Nós somos uma equipe formada por 13 oficiais (subtenentes e sargentos), que inclui a Marinha, o Exército e a Aeronáutica. Todos nós possuímos o curso de operações na selva, realizado no centro de Instrução de Guerra na Selva, o Cigs, que é um centro de instrução reconhecidamente como um dos melhores no mundo. Nosso treinamento foi dividido em duas fases: na primeira, a equipe reuniu-se nesse centro de instrução, em Manaus, onde nós preparamos um programa de instrução que será ministrado para as tropas da Brigada de Intervenção da ONU na República Democrática do Congo. E uma segunda fase que aconteceu no Rio de Janeiro, onde realizamos exames e vacinas obrigatórias para missões de paz da ONU. Lá também a gente realizou um estágio específico para missões de paz das Nações Unidas, no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, o Ccopab. Duas características do nosso treinamento é que todos nós temos fluência em inglês e todos tem uma grande experiência em operações reais na selva, isso facilitou nosso treinamento.
Qual será exatamente a missão do seu grupo, em qual região e o que terão de fazer?
Nossa missão é contribuir com treinamento com as tropas da brigada de intervenção da ONU, a FIB ( United Nations Force Intervention Brigade). A FIB combate os grupos armados atuantes na República Democrática do Congo, principalmente na região nordeste do país. Faremos isso por meio de assessorias, instruções e troca de experiências com as forças que lá atuam, buscando aprimorar as capacidades dessa brigada em combate no interior da selva. Isso é algo inédito no escopo da ONU e acredito que seguramente projetará o Brasil no cenário internacional.
Sabemos que a República Democrática do Congo enfrenta problemas relativos à segurança, além da questão das doenças, como cólera e ebola, que têm feito muitas vítimas.
SARGENTO DUTRA
Oficial integrante de missão de paz
Como será ficar tanto tempo longe da família?
Sou casado há 16 anos, tenho uma filha de dois anos e meio. O afastamento militar e atividades de risco são características inerentes à carreira militar. Por vários momentos, nós nos ausentamos de casa para cumprirmos missões que nos são dadas. Como já sou militar com 19 anos de serviço, minha família, principalmente minha esposa, já está um pouco acostumada a esses afastamentos, o que não quer dizer que seja fácil. O importante é a gente ter uma família que nos apoie e nos incentive nesse profissão. Além disso, as Forças Armadas também proporcionam um suporte às famílias dos militares de operações no Exterior, por intermédio de uma equipe dedicada a esse fim, desde o período de preparação para a missão até o nosso retorno ao Brasil, no término da missão.
A ONU enfrenta grandes desafios de segurança na República Democrática do Congo, com atentados frequentes contra as tropas de paz. Como o senhor lida com essa preocupação?
As peculiaridades do momento que o país africano vive atualmente foi alvo de intenso estudo pelos integrantes da equipe no período de preparação. Sabemos que a República Democrática do Congo enfrenta problemas relativos à segurança, além da questão das doenças, como cólera e ebola, que têm feito muitas vítimas. Nós, os integrantes da equipe, possuímos experiência em operações reais na selva, com emprego real contra grupos regionalmente conhecidos. Essas questões foram alvo de estudos em instruções teóricas e práticas durante nossa preparação. De modo geral, estamos cientes do risco e preparados para lidar com eles.