O Brasil passou a ter, nesta quinta-feira (21) dois ex-presidentes presos — Michel Temer e Luiz Inácio Lula da Silva.
É algo raro na política mundial. Mas não é inédito: a Coreia do Sul viveu algo semelhante no ano passado, quando Lee Myung-bak foi detido por acusações de ter recebido propina, além de peculato e evasão fiscal.
O ex-presidente, que governou o país asiático entre 2008 e 2013, foi o segundo chefe de Estado a ir ser detido em menos de um ano. Antes, sua sucessora, Park Geun-hye, sofreu impeachment em 2017.
Ela está na prisão desde 31 de março daquele ano por abuso de poder, coerção, suborno e vazamento de segredos governamentais. Foi condenada a 24 anos de retenção.
Veja outros líderes presos
Alberto Fujimori (Peru)
Todo-poderoso presidente do Peru de 1990 a 2000, Alberto Fujimori, que ficou conhecido por ter esmagado com mão de ferro o grupo terrorista Sendero Luminoso, foi preso em 2007 e condenado a 25 anos de retenção por crimes contra a humanidade e corrupção. Ele foi indultado em 2018 pelo presidente Pedro Pablo Kuczynski, por motivos de saúde, mas a liberação foi anulada pela Justiça. Fujimori voltou para a prisão.
Outros ex-presidentes peruanos estão envolvidos em casos de corrupção. Alejandro Toledo (2001-2006) é considerado foragido da Justiça peruana, que pediu sua extradição aos Estados Unidos. É suspeito de receber suborno milionário em conexão com a Lava-Jato.
Alan García, que presidiu o Peru em duas oportunidades (1985-1990 e 2006-2011) é investigado por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.
Ollanta Humala, presidente entre 2011 e 2016, também é suspeito de ter sido favorecido no esquema de pagamentos da Lava-Jato peruana. Foi preso em julho de 2017.
Carlos Andrés Pérez (Venezuela)
Foi contra este presidente que Hugo Chávez liderou um golpe frustrado, em 1992. Pérez governou a Venezuela em duas ocasiões, entre 1974 e 1979 e entre 1989 e 1993. Em julho de 1994, foi preso sob acusação de desvio de verba pública. Deixou a prisão domiciliar poucos anos depois e, em 1999, teve sua prisão novamente decretada. Passou o resto de sua vida como foragido. Morreu nos Estados Unidos em 2010.
José Arnoldo Alemán Lacayo (Nicarágua)
Acusado de desvio de mais de US$ 100 milhões para contas de amigos e familiares, Lacayo foi presidente da Nicarágua entre 1997 e 2002. Além de desvio de verbas públicas, foi acusado de lavagem de dinheiro, fraudes e outros crimes. Foi condenado a 20 anos de prisão, convertida em prisão domiciliar, em 2003. Seis anos depois, foi absolvido de todas as acusações.
Jacob Zuma (África do Sul)
O caso do ex-presidente sul-africano Jacob Zuma é muito parecido com as acusações que pesam sobre Lula. Enquanto por aqui a Operação Lava-Jato investiga os laços do ex-presidente com a Odebrecht e a OAS, na África do Sul, a procuradoria-geral pôs em xeque o líder que simbolizava a era pós-apartheid por conta de relações obscuras com um dos maiores grupos econômicos do país. Em comum: contratos suspeitos, aproximações com as maiores companhias de infraestrutura do país, favorecimento de familiares e uma mansão em Dubai, versão sul-africana do caso do triplex. Para saber mais, clique aqui.
Ele chegou a se livrar de mais de 700 acusações em 2009, mas, depois de renunciar à presidência, voltou a responder a processos por suspeita de fraude e corrupção.
Cristina Kirchner (Argentina)
A ex-presidente da Argentina ainda não foi para a cadeia, mas escapou por pouco. Cristina Kirchner só não acabou presa preventivamente por ter foro privilegiado em razão de ser senadora. Na última segunda-feira (18), o juiz Claudio Bonadio abriu um novo processo contra ela por corrupção, agora no caso de suposto superfaturamentos na importação de gás liquefeito.
Ela foi sucessora do marido, Néstor Kirchner, e governou o país por oito anos, entre 2007 e 2015. É investigada em 10 casos, entre eles o chamado "cadernos da corrupção", que envolve cem ex-autoridades e empresários, entre eles um primo do atual presidente, Mauricio Macri.
Carlos Menem (Argentina)
Outro argentino na lista. Carlos Menem já foi preso três vezes — mas apenas uma depois de ter sido chefe de Estado. Em 2001, ficou sob prisão domiciliar por conta de acusação de tráfico internacional de armas. As detenções anteriores ocorreram durante as ditaduras no país vizinho. O senador segue em liberdade apesar das condenações, por conta do foro privilegiado.
Elías Antonio Saca (El Salvador)
Conhecido pelo apelido "Tony Saca", ele presidiu El Salvador entre 2004 e 2009. Foi condenado a 10 anos de prisão por desvio de US$ 301 milhões. Em acordo com a Procuradoria, reconheceu ter cometido crimes de peculato e lavagem de dinheiro em troca da redução da pena.
Nicolas Sarkozy (França)
O ex-presidente da França foi detido em março de 2018 com base na lei "garde à vue". Ele passou dois dias à disposição das autoridades, mas, como exceção, teve permissão para dormir em casa. É investigado por supostamente ter recebido financiamento ilegal de campanha (50 milhões de euros da Líbia à época do ditador Muamar Kadafi).
Álvaro Colom (Guatemala)
Presidente da Guatemala entre 2008 e 2012, foi detido em fevereiro de 2018 junto com praticamente todo seu antigo gabinete. A acusação: corrupção em compras de ônibus para Cidade de Guatemala.
Benjamin Netanyahu (Israel)
O atual primeiro-ministro de Israel, que esteve no Brasil para a posse do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro, enfrenta pelo menos quatro acusações de corrupção por participação em esquemas de contratos suspeitos, troca de favores e presentes de empresários. Netanyahu foi interrogado em razão de ligação com a maior companhia de telecomunicações do país.
O antecessor de Netanyahu, Ehud Olmert, também está envolvido em suspeitas de corrupção. Foi condenado a 27 meses de prisão por corrupção e por obstrução de Justiça. Desde 2017, está sob liberdade condicional.
Silvio Berlusconi (Itália)
Este é um sobrevivente político. Foi acusado de escândalos sexuais a crimes de corrupção, mas sempre conseguiu escapar. O ex-primeiro-ministro italiano enfrentou mais de 20 julgamentos nos últimos 25 anos. Em 2013, foi condenado em última instância por fraude fiscal. Foi sentenciado a um ano de serviços sociais.