Um ex-presidente, um ex-juiz da Suprema Corte, um ex-governador: dezenas de autoridades peruanas se encontram foragidas da Justiça por processos de corrupção, muitas envolvidas no escândalo da empreiteira Odebrecht.
O foragido mais emblemático é o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu da prisão preventiva para os Estados Unidos e agora enfrenta um pedido de extradição do Peru.
O Ministério Público acusa Toledo, entre outros casos, de receber propinas no valor de 20 milhões de dólares da Odebrecht em troca de contratos para a construção dos trechos um e três da Rodovia Interoceânica, que une Brasil e Peru através da selva amazônica.
Desde janeiro, também está foragido Félix Moreno, ex-governador de Callao, depois de ser condenado a cinco anos de prisão pela venda irregular de um terreno estatal.
Moreno estava proibido de sair do país por outro processo, envolvendo propinas de 2,4 milhões de dólares da Odebrecht na licitação da construção de uma rodovia entre Callao e a vizinha Lima.
Mas ser impedido de deixar o país não foi problema para o César Hinostroza, destituído como juiz da Suprema Corte, conseguindo fugir para o Equador e, de lá, para a Espanha.
Hinostroza é acusado de liderar uma rede de corrupção de magistrados chamada "Os Colarinhos Brancos do Porto" de Callao. Hoje, está preso na Espanha, onde enfrenta um pedido de extradição.
"A influência de um fugitivo tem um papel fundamental, porque ele acaba mantendo quotas de poder mesmo depois de denunciadas, como demonstra o caso do ex-juiz Hinostroza", afirma Samuel Rotta, diretor-executivo da ONG Proética, representante peruana da Transparência Internacional
- 44 prefeitos -
A lista elaborada pelo Ministério Público peruano é integrada por 52 foragidos, entre políticos, empresários e mais de 40 prefeitos.
A relativa facilidade com que os investigados abandonam o país de forma ilegal está diretamente relacionada com o poder corruptor do dinheiro, segundo os observadores.
O dinheiro é o que abre as portas para a fuga, afirma o analista político Fernando Rospigliosi.
"A maioria dos foragidos são pessoas que têm dinheiro, que podem subornar as autoridades e ficar escondidas por um tempo", destaca Rospigliosi.
- Propinoduto Odebrecht -
Por causa do escândalo Odebrecht, a líder da oposição, Keiko Fujimori, está desde outubro em prisão preventiva. E, além de Toledo, outros três ex-presidentes estão sendo investigados e não podem deixar o país: Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), Ollanta Humala (2011-2016) e Alan García (2006-2011).
Um dos fugitivos mais notórios até este mês era o ex-secretário-geral do partido fujimorista Jaime Yoshiyama, que se entregou à Justiça depois de voltar de Miami.
Yoshiyama terá de cumprir 36 meses de prisão preventiva por obstrução da Justiça por suspeita de lavagem de dinheiro. Ele é acusado de receber recursos da Odebrecht para a campanha de Keiko.
Acusada de distribuir dinheiro em vários países da América Latina, a empresa brasileira assinou um acordo de cooperação com a Promotoria peruana em 14 de fevereiro e começou a fornecer depoimentos e provas que podem levar à prisão de muitos políticos peruanos, incluindo quatro ex-presidentes.
Os depoimentos dos diretores da Odebrecht para os promotores peruanos no Brasil também incriminam empresários, assim como um advogado que arbitrou as disputas entre a construtora e o Estado e foi subornado pela construtora.
Há duas semanas, a Justiça peruana ordenou a prisão do empresário Gonzalo Monteverde, ex-operador financeiro da Odebrecht no Peru, e que agora também está foragido.
* AFP