Principal nome internacional até agora na posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu traz na mala uma série de problemas internos e externos que o colocam contra a parede em seu país. Bibi, como é conhecido, vive sua pior crise em três mandatos. Ele e a mulher, Sarah, são acusados de promover interesses da maior operadora de telecomunicações israelense, a Bezeq, em troca da cobertura favorável no site de notícias controlado pela companhia, o Walla. Também é suspeito de tentar um acordo semelhante com a direção do jornal Yedioth Ahronoth e de ganhar presentes de um grupo de empresários.
Em Israel, país que vive às turras com os vizinhos, os fatores externos costumam também afetar drasticamente a política interna. Recentemente, o governo aceitou um cessar-fogo com o grupo extremista palestino Hamas, que suspende, ao menos por algum tempo, as ofensivas na Faixa de Gaza. Resultado: o partido Yisrael Beiteinu, de direita, que formava a coalizão de governo decidiu sair. Com a retirada, Bibi e seu governo passaram a ter apenas 61 cadeiras das 120 da Knesset, como é chamado o parlamento de Israel. Ainda é maioria, mas agora bem mais frágil.
Outro petardo internacional lançado contra seus interesses nas últimas semanas foi a decisão do presidente americano, Donald Trump, de retirar as tropas da Síria, o que deixa aliados regionais, como Israel, a ver navios. A saída dos Estados Unidos fortalece o Irã, inimigo de morte dos israelenses, e empodera grupos extremistas islâmicos como o libanês Hezbollah. É importante lembrar que as Colinas de Golã são território sírio sob ocupação de Israel. Certamente, passa pela cabeça dos israelenses que Bashar al-Assad mais forte, com apoio da Rússia diante do vácuo deixado pelos americanos, poderia decidir retomar a região.
Pressionado, o que fez Bibi? Na segunda-feira, 24, decidiu antecipar as eleições. A manobra, natural em um sistema parlamentarista, é vista como estratégica, muito semelhante ao que tentou fazer Theresa May no Reino Unido logo após a vitória do Brexit. Ganhar tempo, mudar o foco da cobertura midiática e, principalmente, chegar com mais força para enfrentar os escândalos internos.
Apesar dos problemas econômicos e das suspeitas, sua popularidade se mantém em alta. Se disputar a eleição e vencer, conquistando o quarto mandato (só comparável ao histórico Ben Gurion), Bibi terá capital político maior para enfrentar as acusações se estas chegarem à Justiça. Por enquanto, o caso está nas mãos do procurador-geral, Avichai Mandelblit, que ainda não decidiu se vai seguir as recomendações da polícia e processar o premier. Além de chegar a uma possível audiência nos braços do povo, alegando que os eleitores o reelegeram mesmo sabendo das acusações, especula-se que Bibi possa propor à nova coalizão de governo uma lei que impeça o primeiro-ministro em exercício de ser processado.
A viagem ao Brasil, a primeira de um premier israelense, como se vê, não será em clima de férias tropicais. O provável afago de Bolsonaro, com promessas de alianças e, provavelmente, a retomada da ideia da transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, serão apenas alentos breves para Bibi. Os problemas que tiram seu sono estão na mala e devem voltar para Tel-Aviv com ele na terça ou quarta-feira.