Nenhuma operação de resgate terá sucesso para retirar as crianças presas em um complexo de cavernas na Tailândia se não houver vontade política do governo em salvar o time de futebol infantil e seu treinador. Capacidade técnica existe, apesar de todas as dificuldades impostas pelo local.
Quase nenhum resgate subterrâneo passou a ser impossível depois do que vi em Copiapó, no deserto do Atacama, no Chile, em 13 de outubro de 2010. Um a um, os 33 mineiros emergiam das entranhas da terra, na maior operação de salvamento da história, a 600 metros de profundidade. Tudo começou em 5 de agosto de 2010, quando os homens ficaram presos após um desabamento na mina San José. Eles foram considerados mortos, mas uma sonda localizou o grupo e constatou que estavam vivos, 17 dias depois. Grosso modo, é mais ou menos como a descoberta com vida do time de futebol tailandês na segunda-feira, só que após nove dias de desaparecimento.
Os mineiros sobreviveram durante quase 70 dias no subterrâneo.
– Comíamos uma colher de chá a cada 24 horas de atum, depois a cada 48 horas e, finalmente, a cada 72 horas – disse um dos trabalhadores, Franklin Lobos.
Depois da localização, as equipes de emergência precisaram perfurar um poço para chegar até os mineiros, o que demorou semanas, antes do resgate final. Naquele dia inesquecível, observei a uma distância de uns 400 metros a cápsula Fenix II, com cerca de cinco metros de altura e 60 centímetros de diâmetro, trazer de volta os mineiros.
Uma das dificuldades no caso da Tailândia é que o complexo de cavernas está inundado — não havia esse problema no Chile. Dois dos três mergulhadores voluntários britânicos que ajudaram a encontrar o time de futebol, Rick Stanton e John Volanthen, percorreram um longo e sinuoso caminho através das cavernas inundadas para encontrar as 12 crianças e seu treinador. Mergulharam a montanha e tiveram que nadar contra a corrente ou se agarrando às paredes.
No Chile, foi a decisão política do presidente Sebastián Piñera que salvou os mineiros – em parte, claro, pressionado pelas famílias das vítimas, que transformaram o deserto do Atacama em uma vila de esperança. Não arredaram pé enquanto seus queridos não fossem salvos, atraindo para as cercanias da mina a atenção do mundo.
Não se vê a mesma mobilização diante do drama na Tailândia.