Após um suposto ataque com armas químicas na Síria, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou, na noite desta sexta-feira (13), ataque contra o país do Oriente Médio. Mas o xadrez político é complicado: antes de confirmar os bombardeios, coordenados por EUA, França e Reino Unido, Trump ameaçou e, depois, recuou. O Kremlin reagiu. O que vem depois?
Em sete pontos entenda o contexto.
1) A origem da atual crise
A Síria foi onde a Primavera Árabe não deu certo. Na onda das revoltas que derrubaram sucessivas ditaduras no norte da África e no Oriente Médio, como Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, grupos de oposição se levantaram contra o governo de Bashar al-Assad, em 2011. O ditador sírio reagiu, e a situação virou uma guerra civil que já dura sete anos e matou pelo menos 346 mil pessoas, segundo Observatório Sírio de Direitos Humanos.
2) Oposição, um saco de gatos
O país também se tornou imã de extremistas islâmicos, muitos deles remanescentes do Estado Islâmico corridos do Iraque, onde sua atuação hoje é bem reduzida. Esses extremistas se misturaram a grupos da oposição.
3) Nova Guerra Fria regional
O país é uma espécie de palco da nova disputa geopolítica entre Rússia e Estados Unidos. Os americanos se retiraram do conflito, com o desmantelamento do Estado Islâmico no Iraque, abrindo espaço para a hegemonia russa na Síria. Al-Assad deve sua sobrevivência política e pessoal a Putin. Até a intervenção, suas forças estavam à beira do colapso. Putin age como mediador regional e chegou a anunciar a vitória das forças do governo sírio sobre a oposição. Os EUA queriam a troca de regime, ou seja a queda de Al-Assad. Há toda uma intrincada questão regional. Israel e Arábia Saudita (de maioria muçulmana sunita) são tradicionais aliados americanos. O Irã (xiita) é aliado da Rússia. Arábia Saudita e Irã travam uma guerra por procuração à parte no Iêmen. A transferência por Trump da embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém, reconhecendo o status da cidade santa como capital de Israel, acirrou os ânimos entre palestinos (e por tabela, os líderes árabes) e israelenses.
4) Massacre da população civil
De tempos em tempos, Al-Assad decide pesar a mão sobre a oposição, massacrando além de guerrilheiros também a população civil. No sábado passado, teria lançado armas químicas contra a região de Douma. Pelo menos 49 pessoas morreram. Não seria a primeira vez que Al-Assad lançaria mão de arsenal proibido: em abril do ano passado, ataque semelhante matou 58 pessoas. Na ocasião, os EUA reagiram menos de 24 horas depois, lançando 59 mísseis Tomahawk contra a base aérea de Al-Shayrat, de onde teria partido o ataque químico.
5) Divergência sobre armas químicas
A questão se a Síria usou ou não armas químicas virou ponto de discórdia internacional. Não havia observadores independentes no país até esta quinta-feira, quando especialistas da ONU chegaram a Damasco. O presidente dos EUA, Donald Trump, tuitou que "mísseis virão", ameaçando com um ataque às instalações sírias. Depois, recuou. O próprio Pentágono não gostou da maneira intempestiva com que o presidente reagiu. A Rússia do presidente Vladimir Putin avisou que "há risco de guerra se os EUA atacarem a Síria". O apoio internacional a um possível ataque ao Ocidente ganhou força depois que o presidente francês, Emmanuel Macron afirmou possuir provas de que o governo sírio usou armas químicas. Mas até agora não as apresentou.
6) Clima de guerra
Nos últimos dias, Já havia movimentação militar intensa no Mediterrâneo, local de onde poderia partir o ataque à Síria, a partir de navios ou submarinos. Também poderia ser utilizada a base de Incirlik, da Otan, na Turquia. No entanto, as aeronaves da coalizão partiram do Chipre.
7) O que vem depois?
Não se sabe o que pode ocorrer após o ataque do Ocidente à Síria. O embaixador russo nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, disse que não descarta guerra se EUA atacarem a Síria. Perguntado se estava se referindo a uma guerra entre os Estados Unidos e a Rússia, ele disse:
– Não podemos excluir nenhuma possibilidade, infelizmente, porque vimos mensagens vindas de Washington. Elas eram muito belicosas.
O endurecimento das respostas por parte do governo russo fez os EUA recuarem em um primeiro momento. Um dia depois de ameaçar com mísseis a Síria, Trump, também pela rede social, recuou, afirmando que não havia informado uma data para o suposto ataque: "Nunca disse quando um ataque à Síria aconteceria. Pode ser em breve ou não tão cedo!" A ameaça se confirmou na noite desta sexta. Durante o pronunciamento de Trump, fortes explosões foram ouvidas na capital síria, Damasco.