Eles matam crianças, usam gás sarín contra a população e, agora, também, gás de cloro, que provoca dispneia, irritação das mucosas, dos olhos e tonturas.
A Guerra na Síria já inscreveu vários nomes na história da infâmia mundial: Aleppo, a Dresden deste século, devastada por toneladas de bombas, Homs, berço da revolta e igualmente destruída, Khan Sheikhun, onde há sinais de uso pelo regime de Bashar al-Assad de armas químicas, e, agora, Ghouta, subúrbio de Damasco cuja parte oriental tem área equivalente ao do município gaúcho de São Leopoldo.
QUINHENTAS PESSOAS morreram lá em uma semana! Eu disse: QUINHENTAS!
A denúncia de uso de gás de cloro parte dos White Helmets, os capacetes brancos, organização de médicos que testemunharam no domingo o sofrimento de dezenas de civis, entre eles muitas crianças, com dificuldades para respirar.
Ghouta Oriental é dominada desde 2013 pelos grupos armados contrários a Al-Assad. O enclave, onde moram cerca de 400 mil pessoas, está cercado pelo exército sírio desde então. Terroristas, dirão alguns. É verdade. Mas no meio deles há muito mais civis do que extremistas. Que poupem pelo menos as crianças.
Com a lentidão de um paquiderme — enquanto quem está na guerra tem pressa —, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) conseguiu finalmente, no sábado, consenso para aprovar um cessar-fogo imediato de 30 dias em Ghouta.
A ONU foi criada das cinzas da II Guerra para justamente evitar que tragédias como aquela se repetissem. Mas está cada vez mais impotente em sua função fundamental. Não é de estranhar que a resolução tardia de sábado tenha sido desrespeitada em suas 48 horas seguintes. Isso até que algum senhor da guerra (ou da paz?) falasse mais alto.
O corredor humanitário que vai vigorar por cinco horas, a partir desta terça-feira, só foi criado depois da ordem do presidente russo, Vladimir Putin. O Kremlin já havia estabelecido uma trégua unilateral em Aleppo em 2016 para permitir a fuga de civis e a retirada de combatentes, antes que o regime sírio retomasse inteiramente o controle. Ou seja, nenhuma folha se mexe na Síria — para o bem ou para o mal — sem que Putin saiba, e, de fato, intervenha. Aliás, a resolução só não passou antes no grande salão do Conselho de Segurança porque a Rússia, aliada de Al-Assad, não aceitava as condições na mesa. Não é de hoje que, nos salões com ar-condicionado da ONU, em Nova York, se fique alheio ao horror nos grotões do mundo.