Em uma coisa, há de se dar razão a Donald Trump: todas as tentativas de negociações de paz entre israelenses e palestinos não funcionaram até aqui. E lá se vão 69 anos de guerras, massacres, duas intifadas (revoltas palestinas), atentados, ocupações e um muro de 700 quilômetros de extensão a dividir cidades e famílias ao meio.
É necessária uma nova abordagem para o problema. Velhas fórmulas - e talvez as fotos de Yasser Arafat, Bill Clinton, Ehud Barak, Yitzak Rabin e Shimon Peres, que tanto fizeram acreditar que a paz era possível no Oriente Médio - devam, mesmo, ficar no baú da História.
Ainda assim, clamando por ideias disruptivas, o problema entre israelenses e palestinos não será solucionado fora do reconhecimento dos dois Estados - um israelense e outro palestino. Algo que o atual líder americano já questionou.
O que Trump, talvez por seu egocentrismo, possa ter esquecido é que presidentes americanos entram e saem da Casa Branca a cada quatro anos, no máximo oito. O problema do Oriente Médio continua lá. Por pelo menos um século, para ficarmos na versão contemporânea dos impasses, nascidos após I Guerra Mundial. Trump pode provocar estragos no que se conquistou até agora em termos de reconhecimento mútuo entre israelenses e palestinos (e não foi pouco, acreditem), mas seu mandato é uma gota no oceano da História.
O que intriga são as razões que levaram o americano a reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Qual estratégia estaria por trás? Ainda que não ter estratégia possa ser uma estratégia, é impossível pensar que não tenha ouvido conselhos de assessores sobre as consequências da decisão. Diplomatas tarimbados nos assuntos do Oriente Médio estão surpresos com o fato de o governo americano ter dado Jerusalém de mão beijada para Israel sem exigir contrapartidas. Na perspectiva diplomática, uma concessão (ainda mais deste tamanho) sempre vem acompanhada de um exigência. É como em um jogo de xadrez, quando se sacrifica uma peça valiosa para engatilhar um xeque-mate ou, ao menos, se aproximar do rei.
Jerusalém é uma peça e tanto do tabuleiro. Se realmente estivesse interessado em mediar a convivência pacífica entre israelenses e palestinos, Trump poderia ter negociado, em troca, demandas palestinas sobre fronteiras (como o recuo aos limites estabelecidos antes da Guerra dos Seis Dias, de 1967, já exigido sucessivas vezes pelas Nações Unidas). Ou, se pedir isso fosse demais, pelo menos o fim da construção de novos assentamentos na Cisjordânia, esses, sim, mais do que Jerusalém, os principais entraves para a paz, por impedir a continuidade de território, quesito fundamental para a existência de qualquer país.
Mas não. Nada foi pedido em troca, mais um indício de que Trump não ouve assessores, estrategistas ou seu staff na Casa Branca, entre os quais alguns conselheiros judeus, que rejeitavam a decisão e preferiam a negociação.
Passar ao panteão da história como um presidente que contribui para a paz no Oriente Médio, como Jimmy Carter, Bill Clinton e Barack Obama, não é meta de Trump. Não, ele não está preocupado com o Oriente Médio. Seus planos são mais comezinhos. Ficar de bem com a base conservadora que o elegeu. E, ainda que não concluído o primeiro ano de mandato, começar a arquitetar os próximos sete.