O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelo presidente Donald Trump, na tarde desta quarta-feira, representa a pá de cal no moribundo processo de paz entre israelenses e palestinos. Se já havia dúvidas sobre a retomada das negociações para se chegar, um dia, à solução dos dois Estados, Trump acaba definitivamente com as esperanças.
E pensar que o mundo já esteve perto de ver os dois povos convivendo lado a lado. Em 1993, com os acordos de Oslo, com mediação de Bill Clinton, as negociações resultaram no reconhecimento mútuo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). O acordo estipulava que tropas israelenses deixariam a Cisjordânia e Gaza, que um governo interino palestino seria montado para um período de transição de cinco anos, abrindo caminho para a formação de um Estado palestino.
Outro grande momento, em que a paz parecia mais próxima, foram os acordos de Camp David, em 2000, também com mediação de Clinton. Essa rodada de negociações tratava de temas como fronteiras, Jerusalém e refugiados. Israel ofereceu a Faixa de Gaza, uma grande parte da Cisjordânia e terras do deserto de Negev, mas mantendo grandes assentamentos em Jerusalém Oriental. Os palestinos queriam começar com a reversão das fronteiras determinadas pela guerra de 1967 e pediam o reconhecimento do "direito de retornar" dos refugiados palestinos.
O mais triste é ver que imagens de líderes dos dois lados, como Arafat e Mahmoud Abbas, de um lado, e Yitzak Rabin, Shimon Peres e Ehud Barak de outro, entrarem para História em vão. Seriam improváveis hoje em dia. De 2000 pra cá, a guerra esteve mais perto do Oriente Médio. Em 2000, houve o passeio de Ariel Sharon pela Esplanada das Mesquitas (o Monte do Templo, para os judeus), deflagrando a segunda Intifada. Na sequência, a construção da barreira de segurança, que corta ao meio territórios palestinos. Em 2006, a vitória do Hamas e o isolamento de Gaza.
Nenhum desses episódios, porém, teve o poder destruidor de qualquer negociação quanto o anúncio de Trump desta quarta-feira.