Donald Trump mexe em um vespeiro ao decidir transferir a embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém, mas esse seria apenas o primeiro passo de algo ainda mais bombástico que estaria por vir.
O anúncio da mudança já teria sido feito em telefonema do presidente dos EUA ao líder palestino Mahmoud Abbas e ao rei Abdullah, da Jordânia. O que virá a seguir deve abalar os alicerces da geopolítica planetária em geral e do Oriente Médio em particular: o reconhecimento de Jerusalém, berço das três religiões monoteístas (cristianismo, islamismo e judaísmo), como capital do Estado de Israel, algo que Trump pode anunciar nesta quarta-feira.
Por muito menos, o roda insana de violência no Oriente Médio já girou em décadas recentes.
O status de Jerusalém sempre foi o mais crítico nas negociações de paz entre israelenses e palestinos. Segundo o Plano de Partição da Palestina, feito pelas Nações Unidas, em 1947, a cidade seria uma entidade separada dos territórios destinados aos israelenses e aos palestinos. Ou seja, dada sua importância como patrimônio histórico, cultural e religioso, sua administração seria internacional. Mas esse status nunca foi obedecido. O lado leste da cidade foi ocupado por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. O governo israelense reclama toda Jerusalém como sua capital única e indivisível. Já os palestinos pedem que a porção oriental da cidade seja a capital do seu desejado Estado.
Israel mantém em Jerusalém a Knesset (parlamento), como símbolo do que acredita ser sua capital. Mas nenhuma embaixada estrangeira, pelo menos até agora, reconhece essa definição. A capital reconhecida pela comunidade internacional é Tel-Aviv, onde estão as sedes diplomáticas, inclusive do Brasil.
Como quase tudo no Oriente Médio, a polêmica mistura aspectos históricos, políticos e religiosos. A cidade abriga o ponto mais sagrado do judaísmo – o Muro das Lamentações, relíquia que sobrou da ruína do templo de Salomão. O problema é que, logo acima, fica a Esplanada das Mesquitas (que os judeus chamam de Monte do Templo), onde estão dois locais santos para o Islã: a mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha.
Quando digo que por muito menos do que Trump deve fazer, o horror já se abateu por lá refiro-me às duas intifadas (revoltas palestinas). A primeira foi espontânea, em dezembro de 1987, com a população palestiniana atirando paus e pedras contra os militares israelenses. A segunda foi quando o então primeiro-ministro israelense Ariel Sharon caminhou pela Esplanada das Mesquitas. Os passos de Trump nas próximas horas têm potencial de desestabilizar o Oriente Médio muito mais do que a caminhada de Sharon naquele 28 de setembro de 2000.