Tempo de isolamento social e de fazer coisas que ocupem meu tempo. Estou lendo o livro "De Belém a Yokohama", uma narrativa da trajetória do mais brilhante dirigente que o Internacional já teve: Fernando Carvalho. Luis Augusto Fischer, grande escritor gaúcho, é o autor. Conheci Carvalho bem jovem, quando era só um conselheiro colorado. Depois foi diretor das categorias de base do clube, onde fez belo trabalho.
Cresceu dentro do clube e se tornou presidente. No seu primeiro ano de gestão, buscou contratações fora do Estado, com jogadores famosos, que quase o levaram para a Série B. Foi aí que surgiu a primeira palavra do título do livro: De Belém. Foi lá na capital paraense, num jogo que até hoje é lembrado pelos colorados, que o Inter ganhou do Paysandu e conseguiu escapar do rebaixamento.
As fotos de Fernando Carvalho naquela partida evidenciavam um homem extremamente preocupado com a possibilidade do pior. No outro ano veio Muricy Ramalho e, com ele, o aproveitamento de jogadores jovens e a aposta nas categorias de base que ele ajudou a formar, o que fez a vida colorada melhorar muito.
Começou com uma vitória em Gre-Nal dentro do Olímpico, com gol de Vinicius e Daniel Carvalho. Mas no time tinha Nilmar, Diego e Diogo e outros tantos. Começava ali a se formar um time competitivo. Marcante foi o jogo contra o Corinthians e o grande erro de arbitragem na expulsão de Tinga e ao não marcar pênalti claro para os colorados.
Só que ali estava caracterizada a classificação do Inter para a Libertadores. Foi o ano em que o Zveiter mudou jogos e favoreceu o Timão. No ano seguinte veio o título continental, algo que o Grêmio já tinha e que o Inter ambicionava para se igualar ao rival. Lembram dos jogos contra o São Paulo? Naquele momento, Muricy era treinador do time paulista. No Morumbi, uma estrondosa vitória contra o time campeão do Mundo, de grandes craques, contra 70 mil pessoas nas arquibancadas.
E lá estava Rafael Sobis marcando dois gols e dando vitória ao Colorado. Eu mesmo me incomodei demais naquele jogo porque na narração do segundo gol fui tomado de emoção pelo sucesso do time de Abel Braga e soltei: "O Inter rasga a camisa do São Paulo e pisa em cima dela". Os caras queriam me matar, sem entender que não os estava ofendendo e sim evidenciando o grande feito.
Foi o maior jogo do Internacional que Fernando Carvalho e eu assistimos. Depois, a confirmação do título em Porto Alegre e aí vem a segunda parte do título do livro: "a Yokohama". Esta é uma cidade japonesa em que se chega com 30 minutos de trem saindo de Tóquio e onde foi construído um estádio para 100 mil espectadores.
Foi nele que também transmiti a final da Copa do Mundo de 2002 quando o Brasil atropelou a Alemanha com dois gols de Ronaldo e conquistou o penta. Foi Gabiru quem nos ofereceu a grande alegria do título. Quando ele foi chamado por Abel Braga para entrar em campo e substituir Fernandão, o que se imaginou era que tudo seria muito complicado. Mas Pedro Harley deixou Gabiru na cara do gol e este finalizou com categoria. O Inter, do presidente Fernando Carvalho, estava se sagrando Campeão Mundial Fifa.
O livro estava indo para seu encerramento. Só que Carvalho voltou depois para tirar o Inter do rebaixamento e trouxe Celso Roth. Desta vez não funcionou. O Inter foi para a Série B. Mesmo assim, não posso deixar de creditar a Fernando Carvalho o título de maior dirigente da história do clube. Ganhou muito mais do que perdeu, transformou o Inter em "Campeão de tudo", frase que os colorados usam com muito orgulho. Do susto de Belém para a glória em Yokohama.