Gari desempregado e pai de 10 filhos, Vladimir Abreu de Oliveira, 41 anos, desapareceu em maio após ter sido abordado por PMs em frente ao condomínio onde morava, em Porto Alegre. Nesta semana, a partir de um inquérito instaurado pela própria Brigada Militar, soube-se que Vladimir foi torturado até a morte por um sargento e um soldado, que depois arremessaram seu corpo de cima da Ponte do Guaíba.
Em São Gabriel, você deve lembrar, um jovem de 18 anos foi espancado por PMs e, depois de morto, teve o cadáver atirado em um açude. Na Capital, na mesma época, um torcedor do Brasil-Pel ficou 47 dias em coma após uma surra da polícia. Em Canoas, pouco depois, brigadianos que faziam bico de seguranças torturaram dois homens por terem furtado picanha. Em Novo Hamburgo, uma câmera de celular flagrou PMs enfiando uma sacola na cabeça da dona de um bar.
Não são poucos os episódios de violência policial que ganharam repercussão no Estado recentemente. E falar sobre isso, por favor, não é defender bandido, é defender a polícia. Porque a polícia precisa de uma boa imagem nas periferias, precisa ser vista como uma instituição parceira, e não violenta.
Quando uma população enxerga a polícia como ameaça – que bate no pai, esculacha o vizinho ou tortura o primo –, cresce na comunidade a convicção de que o bandido, o traficante, o chefe da facção é quem realmente protege os pobres. E isso é péssimo para todos nós, em especial para os policiais, que acabam mais expostos à violência em um ambiente tão tensionado. Não é por acaso que a polícia brasileira, segundo a Anistia Internacional, não está somente entre as que mais matam no mundo – está também entre as que mais morrem. Ou seja, para muita gente, policial bom é policial morto.
No caso da Brigada Militar, vale sublinhar, todos os PMs envolvidos nesses casos de repercussão têm sido investigados e punidos. Os inquéritos policiais-militares são sérios, a corregedoria faz um bom trabalho e, obviamente, esses maus policiais não representam a totalidade da tropa. Mas não dá para seguir chamando cada novo escândalo de "isolado" ou "pontual".
Talvez seja hora de admitir que temos um problema mais profundo. E reconhecer esse problema jamais seria um atestado de culpa, pelo contrário: seria uma demonstração de grandeza de uma instituição que continua querendo evoluir.