Um bordão recorrente no meio político diz que governo gosta é de inaugurar obra – fazer manutenção de obra, aí já é meio chato. Porque inauguração rende notícia, divulgação, cerimônia, aplausos da sociedade, enquanto manutenção só dá trabalho mesmo.
Mas, para a cidade – e não para o governo –, obras conservadas, que recebem cuidado permanente e planejado, quase sempre são mais importantes do que obras novas. Porque são elas, as obras já existentes, que fazem uma cidade ser funcional ou imprestável, agradável ou repulsiva. A manutenção do que já existe, aliás, muitas vezes dispensa a necessidade de gastar dinheiro com novas obras.
Pegue o Anfiteatro Pôr do Sol, por exemplo. Ou a Usina do Gasômetro. Depois de anos e anos abandonados – pelo próprio poder público, diga-se –, agora precisam de reformas estruturais caras e demoradas. São obras que, certamente, vão render inaugurações. Inaugurações que seriam desnecessárias se esses espaços, claro, não tivessem passado tanto tempo sem manutenção. O Teatro de Câmara Túlio Piva, na Rua da República, amarga a mesma desgraça. O antigo prédio da Smic, na Osvaldo Aranha, também.
É um problema crônico da administração pública brasileira: inaugura-se obras, cria-se novos equipamentos, mas não se planeja um orçamento fixo, de longo prazo, para manter essas estruturas em pé. A mesma lógica ocorre nas escolas estaduais – o Instituto de Educação que o diga, coitado, interditado há seis anos.
Mas, no âmbito municipal, o prefeito Sebastião Melo tem uma boa oportunidade de fazer diferente. É verdade que ele herdou o abandono de muita coisa – inclusive do anfiteatro e do Gasômetro – e agora trabalha para recuperar o estrago. Está certo ele. Mas, depois que recuperar tudo, qual será o plano para manter o patrimônio em boas condições?
Foi lançada no início do mês a licitação para revitalizar o viaduto da Borges, outro símbolo da cidade mergulhado em degradação. A prefeitura pretende investir na reforma até R$ 13,7 milhões. É uma excelente notícia, vibraremos todos com o viaduto restaurado, mas, sem um plano de manutenção a longo prazo, em poucos anos ele estará virado na mesma porcaria de hoje.
Melo pode mudar essa história, pode mostrar que preservar, muitas vezes, é mais importante do que inaugurar. Seria uma pequena revolução em Porto Alegre.