Os parques de Porto Alegre entram agora em uma nova fase – e, como tudo o que é novo, há resistências. Trata-se do que alguns urbanistas chamam de "estruturas de suporte à permanência", algo trivial no mundo todo: são pequenos comércios ou construções que permitem ao visitante prolongar a estadia no parque por mais tempo.
A Redenção vai ganhar em maio um complexo gastronômico que garantirá movimento na região até as 10 da noite. Ninguém precisa consumir nada, se não quiser: a grande vantagem está na possibilidade de circular no parque em segurança mesmo após o pôr do sol. Ou passar a tarde trabalhando ali, no miolo da Redenção – chama-se anywhere office essa tendência de montar o escritório em qualquer lugar.
Já na orla do Guaíba, o consórcio GAM3 Parks, que administra a área desde agosto passado, anunciou a instalação de oito quiosques ao longo do trecho 1. Alguns comerciantes que já vendem lanches no local – especialmente os que ficam próximos à Rótula das Cuias, região menos movimentada – não gostaram. Dizem que a concorrência será desleal. Será mesmo?
Porto Alegre, como qualquer metrópole, tem concentrações de estabelecimentos concorrentes na cidade inteira. Quem quer comprar móveis, por exemplo, vai até a Ipiranga. Quem busca instrumentos musicais vai à Coronel Vicente. Os antiquários estão na Marechal Floriano, as peças de carro, na Azenha, os materiais elétricos, na São Pedro, os bares noturnos, na Lima e Silva.
Essas ruas só viraram referência na venda de determinados produtos porque oferecem, em um trecho pequeno, uma grande variedade de opções. E é justamente a concorrência que faz todos os comerciantes saírem ganhando – afinal, o entorno das lojas está sempre tomado de consumidores dispostos a gastar. Não seria uma boa, portanto, inclusive para os vendedores atuais, se a Orla se estabelecesse como referência na oferta de comes e bebes?
Demanda para isso existe de sobra: 60 mil pessoas por dia frequentam o trecho nos finais de semana. Mas a Orla só tem quatro bares. Faltam pontos de sombra, faltam zonas de convívio, faltam mesas para sentar, falta variedade de produtos como sorvete, açaí, doces, comida natural etc.
Não é por acaso que o movimento, hoje, se concentra principalmente nas proximidades do Gasômetro, onde há mais atrativos. Os oito novos quiosques tendem a distribuir melhor o fluxo de pessoas ao longo do trecho 1 – o que deve favorecer inclusive os comerciantes mais próximos da Rótula das Cuias. Mas não há dúvida de que os maiores beneficiados serão os frequentadores.