Ganha cada vez mais corpo na prefeitura a intenção de construir um parque suspenso sobre a linha do trensurb, na Avenida Mauá. E uma pergunta torna-se inescapável: vale a pena discutir esse projeto? Ele é factível, tem chances de sair do papel? Ou se trata apenas de um delírio megalômano sem qualquer condição de prosperar?
A ideia partiu do secretário municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos, Cezar Schirmer, mas logo conquistou a simpatia do prefeito Sebastião Melo e do secretário de Urbanismo, Germano Bremm. Em resumo, uma área pública seria construída a sete ou oito metros de altura, por cima dos trilhos do trensurb, ao longo do trecho de 1,2 quilômetro entre a Estação Rodoviária e a Estação Mercado. Lá do alto, em um gramado com bancos e ciclovia, seria possível passear avistando o Guaíba de um lado e a Mauá do outro.
Embora pareça mirabolante, a maneira como a proposta vem sendo empacotada é pragmática. Ou seja, se deixarmos de lado a típica má vontade do porto-alegrense – que tem receio, e com razão, de se frustrar com projetos ousados que nunca avançam –, há motivos racionais para acreditar na viabilidade do parque. Vejamos por quê:
Em primeiro lugar, é bem provável que aquela região da Avenida Mauá, hoje submersa em degradação, seja valorizada nos próximos anos. Porque está sendo finalizado na prefeitura um plano diretor específico para o Centro Histórico – pelas normas atuais, não é possível construir mais nada no bairro, por isso ninguém investe ali. E a situação vai mudar.
O diferencial da Mauá é que, além de poder receber novos empreendimentos, a iminente revitalização do cais já vem atraindo a atenção do mercado imobiliário. Investidores inclusive sugeriram ao governo municipal que o plano diretor do Centro incluísse – e vai incluir – a possibilidade de construir, na Mauá, prédios com passarelas e esplanadas passando por cima da avenida.
Quer dizer: seria uma forma de interligar os futuros edifícios, do outro lado da via, diretamente ao cais do porto. Nesse contexto, faz sentido que a própria iniciativa privada, por meio de contrapartidas, aceite de bom grado fazer o tal parque suspenso sobre o trensurb. Dá até para dizer que é uma tendência – já que a estrutura, além de atender o mercado, inauguraria uma atração turística sem precedentes no país.
Seria uma área pública, claro, com acesso também pela calçada, por meio de escadas e elevadores. Eu sei, existe o risco de nada sair do papel e, no fim das contas, a frustração imperar. Mas não é um sonho delirante – e nem tão distante assim.