Em quase seis meses de governo, como em qualquer governo, há pontos fortes e fracos na gestão de Sebastião Melo. Sobre o mais fraco eu já escrevi: é a maneira como o prefeito encara a pandemia. Ao defender tudo sempre aberto a qualquer custo, mesmo se o mundo estiver desabando, Melo assume uma postura tão inflexível que não há como inspirar segurança.
Mas o ponto forte, sobre esse vou escrever agora. E ele pode ser resumido em uma frase do próprio Melo, repetida à exaustão em reuniões com secretários e auxiliares:
– Não vamos inventar a roda, vamos fazer a roda girar.
Quer dizer: se não dá para fazer o ideal, que se faça o possível. Por exemplo: a meta do prefeito é botar abaixo o muro da Mauá, mas, como isso é inviável a curto prazo, encontra-se um jeito de deixar o paredão menos horroroso até lá – nos próximos dias, a prefeitura vai escolher a melhor proposta entre três consórcios interessados em embelezar o muro.
Ou seja, o assunto não fica para trás, enfiado em uma gaveta, esperando que a solução perfeita caia do céu. Melo já havia sido vice-prefeito e sabe que essa é uma armadilha comum: projetos mais ambiciosos são frequentemente engolidos pela burocracia estatal – e governos adoram pôr a culpa nela quando nada avança.
Na atual gestão, a burocracia têm sido driblada por remédios caseiros. Em vez de gastar tempo com licitações e editais, Melo pressiona cada fornecedor da prefeitura a adotar, voluntariamente, alguns espaços da cidade. Até a Cootravipa, cooperativa de trabalhadores da limpeza urbana, topou assumir quatro rótulas e uma parte do Viaduto da Conceição.
– O argumento para pressionar é esse: se a Cootravipa adotou, uma empresa que recebe R$ 4 milhões ou R$ 10 milhões do município tem obrigação de fazer o mesmo – diz um membro do governo.
Aliás, a área embaixo do Viaduto da Conceição é um bom exemplo de que o ótimo, no governo Melo, é inimigo do bom. Não ficaram muito bonitos os grafites que a dupla Gre-Nal aceitou fazer nos pilares. Mas soma-se eles ao canteiro adotado pela Tumelero e ao espaço cuidado pela Cootravipa e, definitivamente, o costumeiro aspecto de abandono do local já ficou para trás.
Melo tem uma premissa (correta) de que a cidade precisa ser um lugar agradável: isso faz o morador mais feliz, chama turistas e atrai investimentos. Não é o suficiente para resolver uma capital, claro, e o prefeito tem projetos bem maiores em gestação. Mas o mérito é justamente não depender dos projetos maiores para a roda seguir girando.