O prefeito Sebastião Melo tem se notabilizado por uma estratégia avessa ao meio-termo: ele quer flexibilizar sempre, não importa o que digam os números. Alguns consideram essa tática adequada ao difícil momento econômico, outros dizem que é uma conduta irresponsável.
Melo, embora esteja longe da agressividade verbal de Bolsonaro, consolidou-se como a liderança política que melhor se alinha, no Rio Grande do Sul, às visões do presidente sobre a pandemia. Isso tem lhe rendido fervorosos aplausos, mas também críticas indignadas – é o que costuma ocorrer com quem dispensa a moderação.
Para o prefeito da Capital, a plena abertura das atividades jamais será responsável por agravar o cenário pandêmico. Melo concorda que as aglomerações precisam ser combatidas, mas, na avaliação dele, isso se faz fiscalizando festas clandestinas e bares lotados. Campanhas para conscientizar os mais jovens também são importantes e ponto final.
Em relação a lojas e restaurantes, por exemplo, o prefeito repete o mesmo mantra desde que assumiu o mandato: se os protocolos de higiene e distanciamento forem respeitados, não há razão para limitar horários. O problema é que, por mais cuidado que se tome, quanto mais pessoas estiverem circulando em locais fechados, mais o vírus vai se espalhar – é o que dizem todos os epidemiologistas. Mas Melo rejeita essa premissa.
Nos últimos dias, após semanas de queda nos indicadores, a pandemia no Estado dá indícios de estabilização. Trata-se de um sinal amarelo: quando os índices se mantêm estáveis em um patamar muito elevado, os riscos de colapso voltam a ser grandes. Ainda assim, nesta quinta-feira (22), o prefeito vai levar outra solicitação de afrouxamento ao governador Eduardo Leite.
Quer dizer: para Sebastião Melo, não existe um momento certo para afrouxar as restrições – todo dia é dia, toda hora é hora. Ele pedirá o retorno da bandeira vermelha, o que, na prática, com a cogestão, significaria adotar as regras da bandeira laranja. É improvável que Leite atenda à demanda, mas, mesmo que atendesse, o prefeito provavelmente pediria novas flexibilizações na semana seguinte. A estratégia tem sido esta: esticar a corda o máximo que dá.
Há quem veja nisso uma defesa do ganha-pão, dos empregos e da economia – conceitos, aliás, exaltados por Melo durante a campanha eleitoral. E há quem veja, da parte do prefeito, um certo desdém pela vida. Para mim, é mais fácil ver uma ausência insistente de equilíbrio e prudência.