Quarto ano de mandato e nada de reabrirem o segundo andar do Mercado Público. Para piorar, a associação dos comerciantes do Mercado – que já havia bancado as obras de prevenção contra incêndio – desistiu de tocar as instalações elétricas. Era o que faltava para a reabertura.
– Não dá para assumir mais coisas, estamos inseguros. Com a intenção da prefeitura de conceder o Mercado à iniciativa privada, não sabemos o que vai acontecer com as lojas – diz a presidente da associação, Adriana Kauer.
Ela tem suas razões. Até hoje não ficou claro o que a concessão vai trazer de bom. O Mercado vai abrir no fim de semana? As lojas vão seguir passando de pai para filho? Que reformas serão feitas no prédio? As bancas tradicionais continuarão abertas? Ou novos estabelecimentos vão chegar? E o concessionário, como ele vai ganhar dinheiro sem modificar o perfil popular do comércio, com preços mais acessíveis?
É verdade, o edital só será lançado em março – portanto a prefeitura ainda discute essas questões –, mas o fato é que são quase quatro anos de governo sem qualquer sinal de reabertura do segundo piso. Não tem cabimento. Concordo que pode ser ótimo conceder o Mercado à iniciativa privada, mas, até lá, é obrigação do governo resolver um problema que é concreto, imoral e inadmissível: desde 2013, um dos prédios mais emblemáticos de Porto Alegre, encravado no coração geográfico e emocional da Capital, funciona pela metade.
Ora, não é porque a prefeitura vai conceder, por exemplo, a iluminação pública à iniciativa privada (e vai mesmo), que nunca mais consertará uma lâmpada na rua, esperando a empresa assumir. Não pode ser assim. A promotora Débora Menegat, da Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística do Ministério Público, disse à coluna que o governo federal, em Brasília, teria recursos disponíveis para as obras do Mercado:
– Mas é preciso fazer uma articulação política, entrar em contato, verificar a previsão de liberação.
Procurada, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico informou que, com a desistência da associação dos comerciantes – que concluiria as obras no segundo piso –, a prefeitura avalia buscar recursos com o governo federal. Mas reforça que a concessão à iniciativa privada "resolveria o problema de forma mais efetiva e rápida".