Dez vezes vereador de Porto Alegre, além de prefeito na reta final do regime militar, João Dib tem obsessão por simplicidade. É disso que a cidade precisa, garante ele, porque o principal ela já tem: um povo amoroso e prestativo, sempre disposto a participar das soluções. Aos 89 anos, Dib gosta de voltar no tempo para mostrar o que já foi mais simples. Ele é o último personagem da série de entrevistas que marcou a Semana de Porto Alegre.
Um baita lugar.
A Ponta da Cadeia, ali na região do Gasômetro, é muito linda. Dá para enxergar a cidade por todos os lados. E essa restauração da orla, olha, eu tive pouca oportunidade de passear por lá, porque ando de cadeira de rodas, mas o que pude ver achei muito bom. As pessoas já conseguem aproveitar melhor um ponto tão emblemático da cidade.
Não tem mas deveria ter.
Falta simplicidade. Quando deixei a prefeitura, tínhamos 10 secretarias, três autarquias, o procurador-geral e o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais). Hoje, ninguém sabe direito o que tem lá: é secretário, é adjunto, é uma infinidade de cargos em comissão. Todos os serviços são terceirizados e todos são malfeitos: buraco tapado não dura uma semana. Na minha época, gari da prefeitura recolhia o lixo e, ao todo, tinha 17,5 mil funcionários no município. Como pode hoje ter 26 mil funcionários com tudo terceirizado? Tem que simplificar, mas tudo é tão complicado: tenta pedir um serviço da prefeitura por telefone.
O melhor daqui.
O melhor é o povo. Pode notar como o povo ama a cidade. Loureiro da Silva, maior prefeito que tivemos, disse que, "mesmo que se abra a caixa de Pandora, donde saem todos os males, no coração do porto-alegrense prossegue a esperança de dias melhores". É um povo compreensivo, disposto a ajudar o governo, trocar ideias, participar das soluções. No meu tempo de prefeito, urbanizei 90 praças: eu entrava com uma parte, a comunidade com outra, e eles trabalhavam mesmo. Olha o caso da Trincheira da Cristóvão, que ficou pronta com a mobilização de empresários e moradores. O povo se apresenta, não se omite nunca.
Pode notar como as pessoas amam a cidade. Olha o caso da Trincheira da Cristóvão: o povo se apresenta.
Tem que resolver logo.
Uma medida urgente seria cumprir a promessa de diminuir o número de CCs. Sobraria mais dinheiro do que os R$ 20 milhões por ano que o prefeito pretende economizar. Seria inclusive um estímulo aos servidores, que às vezes deixam de fazer um trabalho que poderiam estar fazendo. A prefeitura juntou secretarias, diz que reduziu o tamanho da máquina, mas, na prática, diminuiu o quê? Nada. O que melhorou? O que adiantou? Por isso que eu digo: simplicidade é um santo remédio.
A cidade em 2029.
Espero que esteja melhor do que hoje. Que as obras ocorram com mais celeridade e competência. Claro que eu sonho com mais segurança, mas falta dinheiro para o Estado e, sinceramente, não vejo no horizonte de onde possam sair esses recursos. Na minha época, o Rio Grande do Sul tinha 233 municípios. Hoje, tem 497 – a maioria nem hospital tem. E aumentou o número de policiais? Pelo contrário, despencou, mas o número de prefeitos e Câmaras Municipais duplicou. Não tem a menor necessidade disso. Eu já disse, o que espero é uma cidade mais simples.