Paulo Germano

Paulo Germano

Jornalista formado pela PUCRS, está em ZH desde 2006, mas foi em 2015 que se tornou colunista do jornal. Antes, atuou nas áreas de política, geral, cultura e esportes. É comentarista da RBS TV. Já venceu o Prêmio Petrobras de Jornalismo e foi finalista do Prêmio Esso. PG, como é chamado, escreve sobre vida real.

A cara de POA

João Dib: "O povo em Porto Alegre participa, ajuda o governo, nunca se omite"

Na semana em que a Capital completou 247 anos, a coluna entrevistou cinco personalidades da cidade para avaliar o que há de melhor - e pior - em Porto Alegre

Paulo Germano

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Robinson Estrásulas / Agência RBS

Dez vezes vereador de Porto Alegre, além de prefeito na reta final do regime militar, João Dib tem obsessão por simplicidade. É disso que a cidade precisa, garante ele, porque o principal ela já tem: um povo amoroso e prestativo, sempre disposto a participar das soluções. Aos 89 anos, Dib gosta de voltar no tempo para mostrar o que já foi mais simples. Ele é o último personagem da série de entrevistas que marcou a Semana de Porto Alegre.

Um baita lugar.

A Ponta da Cadeia, ali na região do Gasômetro, é muito linda. Dá para enxergar a cidade por todos os lados. E essa restauração da orla, olha, eu tive pouca oportunidade de passear por lá, porque ando de cadeira de rodas, mas o que pude ver achei muito bom. As pessoas já conseguem aproveitar melhor um ponto tão emblemático da cidade.

Não tem mas deveria ter.

Falta simplicidade. Quando deixei a prefeitura, tínhamos 10 secretarias, três autarquias, o procurador-geral e o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais). Hoje, ninguém sabe direito o que tem lá: é secretário, é adjunto, é uma infinidade de cargos em comissão. Todos os serviços são terceirizados e todos são malfeitos: buraco tapado não dura uma semana. Na minha época, gari da prefeitura recolhia o lixo e, ao todo, tinha 17,5 mil funcionários no município. Como pode hoje ter 26 mil funcionários com tudo terceirizado? Tem que simplificar, mas tudo é tão complicado: tenta pedir um serviço da prefeitura por telefone.

O melhor daqui.

O melhor é o povo. Pode notar como o povo ama a cidade. Loureiro da Silva, maior prefeito que tivemos, disse que, "mesmo que se abra a caixa de Pandora, donde saem todos os males, no coração do porto-alegrense prossegue a esperança de dias melhores". É um povo compreensivo, disposto a ajudar o governo, trocar ideias, participar das soluções. No meu tempo de prefeito, urbanizei 90 praças: eu entrava com uma parte, a comunidade com outra, e eles trabalhavam mesmo. Olha o caso da Trincheira da Cristóvão, que ficou pronta com a mobilização de empresários e moradores. O povo se apresenta, não se omite nunca.

Pode notar como as pessoas amam a cidade. Olha o caso da Trincheira da Cristóvão: o povo se apresenta.

Tem que resolver logo.

Uma medida urgente seria cumprir a promessa de diminuir o número de CCs. Sobraria mais dinheiro do que os R$ 20 milhões por ano que o prefeito pretende economizar. Seria inclusive um estímulo aos servidores, que às vezes deixam de fazer um trabalho que poderiam estar fazendo. A prefeitura juntou secretarias, diz que reduziu o tamanho da máquina, mas, na prática, diminuiu o quê? Nada. O que melhorou? O que adiantou? Por isso que eu digo: simplicidade é um santo remédio.

A cidade em 2029.

Espero que esteja melhor do que hoje. Que as obras ocorram com mais celeridade e competência. Claro que eu sonho com mais segurança, mas falta dinheiro para o Estado e, sinceramente, não vejo no horizonte de onde possam sair esses recursos. Na minha época, o Rio Grande do Sul tinha 233 municípios. Hoje, tem 497 – a maioria nem hospital tem. E aumentou o número de policiais? Pelo contrário, despencou, mas o número de prefeitos e Câmaras Municipais duplicou. Não tem a menor necessidade disso. Eu já disse, o que espero é uma cidade mais simples.

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