Ele reconhece que a cidade é cheia de problemas, mas sua prioridade é outra: prefere refletir sobre como cada um de nós contribui para solucioná-los. Ex-jogador da dupla Gre-Nal, Paulo César Tinga, 41 anos, carrega no nome um dos maiores bairros da Capital. O homem que levou a Restinga para o mundo, hoje morador da Pedra Redonda, é o segundo personagem da série de entrevistas que a coluna traz na Semana de Porto Alegre.
Um baita lugar e por quê.
A orla de Ipanema. Nunca houve investimento pesado lá, mas ela é tão forte e tão simbólica, que segue firme. Todo dia tem gente caminhando, curtindo, admirando a paisagem, e todo final de semana aquilo lota. Se investirem 10% do que foi investido na orla do Gasômetro, vira um paraíso. Porto Alegre talvez seja a única cidade com praia que fica de costas para a água. Em qualquer lugar do mundo, o que está perto da praia tem mais valor, mais vida, recebe os melhores empreendimentos. Aqui, a região mais valorizada fica a quilômetros do Guaíba.
Não tem mas deveria ter.
Deveríamos pensar mais nos outros, evoluir como cidadãos. É fácil culpar o governo, dizer que Porto Alegre é isso, que o Brasil é aquilo, mas quem faz uma cidade é quem vive nela. Se o cara joga lixo no chão hoje, amanhã vai voltar contra nós. Uma vez, estávamos eu e o Fernandão no carro dele. Chovia muito e, à nossa direita, tinha um catador empurrando o carrinho. Atrás dele vinha outro carro, buzinando enlouquecidamente, furioso. Poxa, aquele motorista ia chegar em casa em 10 minutos. O catador, sabe-se lá quantas horas levaria, e ainda chegaria todo molhado. Somos egoístas no trânsito. Não se muda uma cidade sem mudar essas coisas.
O melhor daqui.
São as diferenças. Temos uma mistura muito rica de culturas: são descendentes de alemães, de italianos, de africanos – isso traz uma variedade que vai da comida até as datas festivas. E temos as quatro estações do ano bem definidas, bem diferentes. Não é qualquer cidade que tem esse privilégio. Dá para curtir o verão, curtir o inverno: o mundo todo queria isso. Imagina um calorão o ano todo. Ou um frio de rachar de janeiro a janeiro. Temos sorte.
Não é qualquer cidade que tem esse privilégio. Dá para curtir o verão, curtir o inverno: o mundo todo queria isso.
Tem que resolver logo.
Segurança, sem dúvida, e mais incentivo para o pessoal andar de bicicleta, de skate, de patinete. É muito buraco e pouca ciclovia. Mesmo assim, aqui perto de casa, tento fazer tudo de patinete. Mas, claro, não adianta encher a cidade de ciclovia em uma cidade sem segurança. As duas coisas estão ligadas: para as pessoas viverem a cidade, precisam de infraestrutura. Mas, para aproveitar a infraestrutura, precisam de segurança.
A cidade em 2029.
Sonhar não custa nada, então imagino como eu quero que seja: com tudo isso, segurança, ciclovias, ruas melhores, pessoas melhores. Estou esperançoso, sabe? Em relação à cidade e ao país, de um modo geral. Antigamente, só ia preso quem era da favela, mas hoje isso está mudando. Temos dois presidentes na cadeia (Temer foi solto na noite de segunda-feira, 25). Isso me faz acreditar que a igualdade começa a ganhar espaço. E uma cidade precisa de igualdade, de pessoas com essa consciência, pensando no outro, entendendo que estamos todos juntos dividindo o mesmo espaço.