A coluna elegeu cinco personagens incontestáveis: eles têm a cara de Porto Alegre. Até sexta-feira (29), o quinteto responde às mesmas cinco provocações, revelando olhares únicos sobre a Capital que nesta terça (26) completa 247 anos. Para abrir a série, a escritora Martha Medeiros, 57 anos, moradora do bairro Petrópolis, fala desde a "encantadora luz natural" da cidade até o "descaso com a sinalização urbana".
Um baita lugar e por quê.
O Guaíba, nosso lago desprestigiado que só agora começa a receber mais atenção. Agilidade nunca foi nosso forte, eu sei, mas está mais do que na hora de assumirmos nosso potencial náutico e de curtir o Guaíba para além da contemplação do pôr do sol. Investir em sua despoluição, preservar a natureza em torno da orla, resolver a questão do muro. Comecei recentemente a praticar stand-up paddle e ganhei uma cidade novinha em folha, descobri outros perfis da Capital e outro astral.
Não tem mas deveria ter.
Sendo nostálgica: um amigo inglês esteve aqui e achou que Porto Alegre tinha um ar de San Francisco (EUA) por causa de seu relevo, as subidas e descidas – logo me lembrei dos nossos saudosos bondes, fico imaginando o charme que dariam hoje à cidade. Mas o que eu queria mesmo era metrô, pena que não será nesta encarnação, nem na outra.
O melhor daqui.
Porto Alegre é bastante arborizada. E é uma cidade colorida, tem uma luz natural encantadora, principalmente nesta época do ano. Além disso, temos alternativas culturais variadas, o Em Cena, o Porto Verão Alegre, a Feira do Livro, a Festipoa, o Fronteiras do Pensamento e outros tantos eventos. Já não estamos "longe demais das capitais" como antes. E os bairros começam a desenvolver identidade própria, a investir em cultura local e em diversidade, a exemplo da Cidade Baixa, Floresta, a revitalização do Quarto Distrito... Fico animada com esse movimento.
Temos alternativas culturais variadas. Já não estamos "longe demais das capitais" como antes.
Tem que resolver logo.
Certamente há demandas sérias nas áreas de educação, saúde e segurança, mas, para citar algo irritante no dia a dia, elejo a ausência de placas indicativas dos nomes das ruas, que deveriam existir em todas as esquinas. O descaso com a sinalização urbana é assombroso. Acho, também, a cidade mal iluminada à noite. E damos pouco valor ao bom atendimento. Funcionários que lidam com clientes são displicentes e mal informados – é uma generalização, claro, há muitas exceções, mas, se quisermos ser uma cidade cosmopolita, não dá para continuarmos tão blasés.
A cidade em 2029.
Imagino que o cais do porto se tornará uma região vibrante da cidade, que o Mercado Público estará plenamente reconstruído, que voltaremos a ter livrarias de bairro, que as ciclovias funcionarão como estímulo para se deixar o carro em casa, que a Feira do Livro continuará firme e forte na Praça da Alfândega, que o Centro será um lugar mais aprazível para se trabalhar e se divertir, que o Multipalco estará concluído como dona Eva sonhou e que o meu otimismo permanecerá tinindo.