Planejada para estar pronta antes da Copa de 2014, iniciada apenas após o Mundial e paralisada por dois anos, a Trincheira da Cristóvão Colombo finalmente foi liberada para veículos. Às 15h32min desta terça-feira (19), os cavaletes e cones que bloqueavam o trânsito na zona norte de Porto Alegre foram retirados pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Com a medida, possível graças à união da comunidade, os primeiros carros puderam passaram pelo local, no sentido centro-bairro, minutos antes de ser liberado também o sentido contrário.
Antes da liberação da pista, o empresário Eduardo Estima, responsável pela mobilização, recebeu a Comenda Porto do Sol.
– Me sinto muito orgulhoso, principalmente dos amigos que aceitaram o desafio e vieram contribuir das mais diversas maneiras, seja incentivando, seja ajudando na gestão, ou mesmo financeiramente – destacou.
Presente no evento, que não contou com a participação de representantes da prefeitura de Porto Alegre, o vereador Ricardo Gomes (PP) enalteceu a mobilização da comunidade.
– Este é um exemplo extraordinário de como a sociedade, quando se organiza, é muito mais forte que o poder público. O que ocorreu foi uma reação dos moradores de Porto Alegre para mostrar que a cidade tem jeito, que tem um caminho, e que venceu a nossa tradição de só reclamar. Eles tomaram as rédeas e fizeram com que a obra chegasse ao final – disse.
Mobilização começou nas redes sociais
Estima explica que foi pelas redes sociais que começou o engajamento para que a Cristóvão Colombo fosse enfim liberada no trecho:
– Um amigo postou (nas redes sociais) uma foto da obra inacabada, e outros amigos começaram a criticar, que não terminava, críticas normais. Resolvi provocar o pessoal (no início de dezembro de 2018). Peguei aquela foto e disse: "Em vez de reclamar, quem sabe a gente ajuda?" – relata o morador do bairro Moinhos de Vento.
No mesmo dia, 14 pessoas ficaram diante do canteiro de obras com a ideia de liberar a passagem de veículos em mente. O secretário Ramiro Rosário (Serviços Urbanos) soube da iniciativa, entrou em contato com o grupo e agendou a primeira das conversas com a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade (Smim).
– Ouvimos histórias dos engenheiros e pedimos: "Vamos focar na liberação". O que precisaria para liberar a avenida? As alças ficariam para depois – conta Estima, prevendo que, se dependesse de a prefeitura fazer uma nova licitação, a medida ficaria para 2020.
– (Os técnicos da prefeitura) ficaram de ver o que precisaria de materiais e valores – relata. – Na segunda-feira seguinte, nos mostraram o que tinha de ser feito, foram quantificando e nos passando. Na terça-feira, tínhamos 20 caminhões e três retroescavadeiras – comemora.
Moradora de um prédio em frente à estrutura, a administradora Tuty Silva conta que, inicialmente, o grupo imaginava se tratar de uma intervenção simples, "fazer uma limpeza e abrir". O contato com a prefeitura mostrou que havia mais complexidade. As doações – e alguns serviços executados por empresas que se uniram à causa – garantiram a pavimentação de 50 metros da Cristóvão Colombo, finalização do muro de contenção da trincheira, pintura e instalação de placas de trânsito.
O contrato para a execução dos trabalhos foi assinado em agosto de 2012, mas a ordem de início foi dada somente em março de 2013 – à época, a previsão era de um ano de serviço. Os desvios no trânsito ocorreram em julho daquele ano, mas as obras tiveram começaram só depois da Copa. Em outubro de 2016, com 85% de execução, os trabalhos pararam: o consórcio formado pelas empresas EPT, Serenge e Serki desistiu da obra sob a alegação de dificuldades financeiras.
No dia 11, a comunidade assumiu os custos de mais uma etapa. Máquinas da prefeitura trabalham em uma das últimas duas alças de acesso que ainda não foram concluídas. O prazo é abril. Mesmo assim, a prefeitura mantém a intenção de fazer a licitação para finalizar a travessia, que necessita de muros, calçadas, alargamento da Cristóvão Colombo, além da sinalização definitiva.
Emoção e economia: moradores e motoristas comemoram
Nesta terça, Tuty estava emocionada com a liberação de um dos trechos:
– É emocionante. A gente está há muito tempo esperando que isso ocorra. Há seis anos está interrompido. Esse grupo de empresários nos ajudou a realizar nosso sonho de arrumar isso aqui. Só tenho a agradecer. Me emociona muito – disse Tuty.
Escoltados por uma moto da EPTC, alguns dos primeiros motoristas a passarem pelo local buzinaram em comemoração. No sentido bairro-centro, o motoboy Elói Nunes era quem puxava a fila.
– Passo aqui no mínimo cinco vezes por dia. Vai ficar muito bom para nós. Antes tinha que fazer desvio por tudo que é lado. Agora vamos economizar tempo e gasolina – disse.