Mesmo que o Brasil permaneça bastante distante dos níveis desejados de renda e bem-estar da população, trazem alento os dados publicados na quarta-feira pelo IBGE mostrando que o país e o Rio Grande do Sul alcançaram, em 2023, os menores níveis de carência desde 2012, quando foi iniciada a série da pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais. No Estado, 14,4% da população estava abaixo da linha da pobreza no ano passado, ante 16,8% em 2022. Na condição de extrema pobreza, o percentual caiu de 2,5% para 1,3%. No Brasil, respectivamente, as reduções foram de 31,6% para 27,4% e de 5,9% para 4,4%. Foi o segundo ano consecutivo de melhora nos rendimentos, após pico da carestia, em 2021, quando os efeitos econômicos da pandemia apareceram de forma mais aguda.
É uma agenda que deve ser voltada para o aumento da produtividade e da competitividade da economia brasileira
Técnicos do IBGE e pesquisadores do tema atribuem a queda da extrema pobreza aos programas sociais. As iniciativas de transferência de renda, sem dúvida, têm vital importância para amparar quem sofre com a fome. Por outro lado, a redução da pobreza é creditada à melhora do mercado de trabalho, ligada ao bom momento da economia.
Embora se comemore o maior número de brasileiros que melhoraram as condições básicas de vida nos anos recentes, ainda há muito a avançar em termos de progresso socioeconômico. O melhor caminho para este objetivo, como indica a análise qualitativa da pesquisa do IBGE, é o da manutenção de uma economia que cresça de forma sustentada e consistente ao longo do tempo, dando fim ao histórico de períodos de euforia sucedidos por crises e recessões, que voltam a jogar multidões na miséria.
O país vive, neste momento, uma fase de entusiasmo com os números mais recentes de PIB e mercado de trabalho, mas também de crescente desconfiança quanto à manutenção desse desempenho positivo nos próximos meses e anos devido à previsão de aumento do desequilíbrio fiscal. O temor é a reprise de um filme conhecido no Brasil. É por esta razão que se avolumam os alertas para o governo federal não ser leniente com as projeções de piora das contas públicas.
Existem outros desafios a serem enfrentados. Em resumo, é uma agenda que deve ser voltada para o aumento da produtividade e da competitividade da economia. O mercado de trabalho já está apertado no Brasil e, portanto, a prioridade é encontrar formas de produzir e fornecer mais serviços em menos tempo, o que exige mais qualificação da mão de obra e absorção de novas tecnologias. Um trabalhador mais eficiente em suas tarefas pode receber mais sem que isso seja inflacionário. Um melhor ensino, portanto, é ponto de partida. Ao lado da educação, o país precisa de reformas que melhorem o ambiente de negócios, como a tributária, em fase final de avaliação no Congresso. A próxima deve ser a administrativa.
De 2022 para o ano passado, 8,7 milhões de brasileiros saíram da pobreza. Outros 3,1 milhões deixaram a miséria mais profunda. Mas ainda existem 59 milhões de pobres e outros 9,5 milhões em piores condições. Ao fim, resta trazer para uma vida minimamente digna cerca de um terço da população.