A chegada do período mais quente do calendário no Rio Grande do Sul, época com condições climáticas favoráveis para a proliferação de mosquitos como o Aedes aegypti, reaviva a preocupação com a dengue. A doença alcançou patamares inéditos no Estado neste ano, com uma disparada na quantidade de vítimas fatais. Entre janeiro e novembro, foram 281 mortes confirmadas pela enfermidade, 420% acima das de 2023 e o dobro do total de óbitos registrados entre 2015 e o ano passado.
Entre janeiro e novembro, foram 281 mortes confirmadas pela enfermidade no Estado, número 420% acima do de 2023
São números que não podem ser repetidos em 2025. É essencial que as autoridades estaduais e municipais de saúde reforcem medidas preventivas, de controle e monitoramento ao longo das próximas semanas. O poder público, com ações de vigilância epidemiológica, observação da multiplicação do inseto vetor e de atenção a casos suspeitos, joga um papel decisivo. Mas a mobilização de órgãos e profissionais da área precisa ser acompanhada pelo engajamento da população, atenta à eliminação de criadouros de mosquitos em suas residências e vizinhanças.
O quadro de 2024 foi potencializado pelo período chuvoso observado em especial no segundo semestre do ano passado. As chuvas como as que geraram a enchente de setembro de 2023 favoreceram a reprodução do Aedes aegypti, hoje encontrado em 471 dos 497 municípios do Estado e transmissor também de chikungunya, zika e febre amarela urbana, doenças chamadas de arboviroses. Entre janeiro e meados de novembro, foram confirmados mais de 205 mil casos, quase o dobro da quantidade registrada entre 2015 e 2023. Grande Porto Alegre, norte e noroeste do Estado são as regiões mais críticas. Precisam ser lembrados ainda estudos indicando que, nas próximas décadas, devido às mudanças climáticas, o Rio Grande do Sul tende a ser um território mais quente e úmido.
Aguardam-se, portanto, esforços que impeçam uma nova explosão da doença. No final de outubro, a Secretaria Estadual da Saúde apresentou o plano de contingência para enfrentar a dengue nos meses finais de 2024 e durante 2025. Essa mobilização inclui campanhas informativas direcionadas aos cidadãos, para que se atentem à tarefa de evitar o acúmulo de água em recipientes, onde a fêmea do mosquito coloca os seus ovos e as larvas se desenvolvem. Conforme o Ministério da Saúde, 75% dos focos são encontrados em áreas residenciais.
Também é relevante reforçar a mensagem da importância de a população receber agentes comunitários de saúde e de combate de endemias, com a ampla divulgação da forma de identificar os profissionais. Notadamente nos municípios maiores, a desconfiança em relação a estranhos, diante da existência de toda sorte de golpes, ainda faz com que servidores treinados para identificar criadouros e dar orientações sejam barrados pelos moradores.
O Ministério da Saúde passou a disponibilizar neste ano uma vacina contra a dengue, mas o imunizante, com um esquema de duas doses, é por enquanto direcionado apenas a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. O Estado recebeu em maio a primeira remessa. A adesão é baixa. Até o início de novembro, cerca de um terço do público-alvo havia recebido a primeira dose, e apenas um quinto, as duas. Como não há disponibilidade suficiente do produto no país, pelo menos no próximo ano a imunização não será, outra vez, a principal ferramenta para conter a doença. O foco permanece no combate ao vetor.