Sou um parafraseador incorrigível, confesso. Sempre que ligo para um velho companheiro de ofício, personagem desta crônica, gosto de imitar a genial pegadinha aplicada nos seus conterrâneos pelo poeta Jayme Caetano Braun. Segundo a história que me foi relatada pela sobrinha do pajador, a queridíssima Suzete Braun, ele chegou à cidade cercado de expectativas, reuniu parcela expressiva da população e começou a declamar:
– Santiago do Boqueirão, quem não é bandido é ladrão!
Diante da plateia estupefata, repetiu a saudação deliberadamente ofensiva:
– ... quem não é bandido é ladrão!
Ao ver que os macanudos taurinos já começavam a se inquietar, completou:
– Mataram minha saudade, roubaram meu coração.
O grande cartunista Neltair Rebés Abreu, mais conhecido e reconhecido como Santiago, inclusive por respeitados jornais japoneses, normalmente já sabe quem está na outra ponta da ligação quando me ouve dizer:
– Santiago do Boqueirão, quem não é amigo é irmão.
Pois seus incontáveis e fraternos amigos reuniram-se na sexta-feira passada no Espaço Amelie, para celebrar o lançamento do Caderno de Desdenho, uma coletânea de cartuns premiados do talentoso desenhista de jornal, que é como ele próprio se define. Entrei na fila e aproveitei para adquirir também seu segundo álbum de quadrinhos, A Menina do Circo Tibúrcio, editado em 2017, que ainda não havia lido.
Estou rindo até agora. Não me divertia assim desde que devorei a coleção inteira de Asterix ou as histórias impagáveis do cowboy Lucky Luke. Os causos contados e desenhados por Santiago sobre personagens e situações cômicas da sua infância são antológicos, tanto pela singeleza dos relatos quanto pelo enfoque sempre bem-humorado do autor.
Minha história preferida é a de um bodegueiro italiano chamado Necessário Frescura, que foi abrir conta no banco da cidade. Em exatos 10 quadrinhos (cada causo ocupa uma página, no máximo duas), Santiago leva o leitor do sorriso à gargalhada sem intervalo para a respiração.
Não dá para deixar de ler. O parafraseador aqui garante que é um livro necessário para a preservação da nossa sanidade mental. E sem frescura.