Eu acredito no Papai Noel, até mesmo porque já fui um deles no fatídico dia em que aceitei a incumbência de vestir a fantasia vermelha para fazer uma reportagem do ponto de vista do chamado Bom Velhinho.
Saí da experiência num shopping da Capital com duas sensações conflitantes: a da missão cumprida, pois colhi as informações necessárias para o trabalho jornalístico, e a do remorso de ter ludibriado a boa-fé das crianças que me abraçaram naqueles intermináveis minutos da planejada simulação.
Faz tempo, aquelas crianças já devem ser adultos que não acreditam em Papai Noel, mas ainda sinto que lhes devo um pedido de desculpas — extensivo, evidentemente, aos papais-noéis profissionais, que exercem com talento e dedicação o ofício de manter a esperança acesa no coração dos pequenos.
Eu acredito na Estrela-Guia como uma luz interior que indica o melhor caminho para cada ser humano alcançar os seus propósitos. Não me refiro a nenhuma daquelas que enfeitam a cortina escura das noites sem nuvens, nem ao astro místico desenhado pelos pincéis da fé e consagrado pela literatura mística. Respeito quem os venera. Mas creio muito mais naquela faísca da intuição, que se acende no breu do nosso cérebro e nas trevas da nossa alma sempre que parece não haver saída.
Eu acredito na Noite Encantada, que até pode parecer uma noite como todas as outras, mas é única na sua composição de luzes e esperanças, de guirlandas e bolas coloridas, de árvores e comilanças, de anjos e renas, de cantos e sinos, de afetos e abraços. E pode ser também — por que não? — uma extraordinária oportunidade para a reflexão, para a solidariedade, para a compaixão, para o respeito ao outro, para a abertura de um novo crédito de confiança na humanidade.
Eu acredito na Oração, especialmente naquela feita no silêncio das boas intenções, na escolha das palavras amáveis, no riso translúcido das crianças, na alegria do compartilhamento e na lembrança suave dos afetos que já se transformaram em saudade.
Eu acredito no Natal porque a data, independentemente dos seus sentidos religioso e comercial, simboliza o renascimento reiterado do melhor sentimento do ser humano, que é o amor ao próximo. _