A turma dos polegares ainda me impressiona. Sempre que vejo um jovem ou adolescente digitando furiosamente com os dois dedões no celular, penso na minha antiga professora de datilografia. Para quem não sabe (ou não lembra mais), datilografia era uma técnica pré-histórica que o pessoal da minha geração utilizava para escrever em máquinas barulhentas, manipulando o teclado com os dez dedos e sem olhar para ele. A mestra de que vos falo cobria as mãos dos alunos com uma cartolina para que decorassem as posições das letras e, assim, “treinassem” o cérebro para a escrita correta.
Empreguei o verbo treinar de propósito, pois esse é o princípio da inteligência artificial que, em breve, pelo andar da carruagem tecnológica, aposentará também os polegares. Como uma ideia puxa a outra, lembrei— me agora de uma canção infantil da cantora Eliana que cheguei a usar com as crianças no meu estágio de Educação Física: “Polegares, polegares, onde estão? Aqui estão. Eles se saúdem, eles se saúdam. E se vão. E se vão.”
Logo, logo, se irão mesmo. Nem a meninada da era digital precisará deles para escrever. Graças à inteligência artificial, os cientistas já desenvolveram algoritmos que aprendem os padrões elétricos do cérebro humano durante a escrita, possibilitando que pessoas tetraplégicas formem palavras na tela de um computador apenas pensando nelas. Pelo jeito, vamos, sim, escrever com o pensamento, sem precisar usar os dedos. É a minha chance de pular esta etapa dos polegares e superar o constrangimento de dedilhar com o indicador na telinha do celular.
Mas todo avanço implica riscos. Se a atual celeridade da escrita digital já vem causando problemas, com muita gente escrevendo sem refletir, imaginem o que poderá acontecer com a transformação instantânea do pensamento em texto. Imaginou? Nem me conte. Como costumam digitar alguns jovens quando alguém se arrepende e apaga uma mensagem de WhatsApp logo depois de tê-la escrito:
— Deus sabe o que você pensou...
Porém, se os nossos cérebros realmente aprenderem a digitar sem o auxílio dos dedos, em breve todos saberemos. Que medo!