O ministro da Cultura da Ucrânia enviou uma carta indignada à Netflix reclamando da maneira como é retratada uma personagem de sua nacionalidade na série Emily em Paris, sucesso de audiência na televisão. A ucraniana referida não entende de moda, fala precariamente o inglês e o francês e, por um desses mal-entendidos do idioma, acaba furtando roupas em uma loja chique.
Vi parte da primeira temporada de Emily. Achei um tanto superficial, mas bem divertida. Além disso, as imagens de Paris são belíssimas. Porém, pelo que percebo agora, nem todos os telespectadores se divertem com as aventuras da jovem executiva norte-americana na capital francesa. Os próprios franceses já reclamaram de serem mostrados como pessoas rudes de boinas que traem seus parceiros. E alguns britânicos também ficaram contrariados com o estereótipo do personagem inglês que fica o tempo todo bebendo cerveja e assistindo futebol.
Como ainda não apareceu um brasileiro fazendo escândalo ou cometendo alguma gafe, não tenho do que reclamar — e nem o faria por causa de uma caricatura. Acho que as pessoas andam excessivamente sensíveis em relação a críticas e gozações. Qualquer brincadeira vira incidente diplomático. Outro dia, o presidente de uma entidade classista queria o fígado do chargista que desenhou um predador ambiental armando a sua árvore de Natal, num cenário de devastação florestal. Por nada, algumas pessoas vestem a carapuça da culpa e saem atirando.
Levam-se por demais a sério esses terraplanistas que se sentem injuriados. Fariam melhor se achassem graça. Já está comprovado cientificamente que rir é, realmente, o melhor remédio, pois o bom humor fortalece o sistema imunológico, aumenta a energia e funciona como antídoto para o estresse.
Tudo bem, meu lugar de fala é outro. Não sou ucraniano e, além disso, tenho a melhor lembrança de Paris da única vez em que estive lá numa época de Copa do Mundo. Os temidos franceses, quase sempre retratados como arrogantes e mal-humorados, me receberam fraternalmente e me levaram de carruagem até as margens do Sena para um passeio de barco com almoço a bordo.
Só faltou a Emily, mas isso não me tirou o bom humor.