Afora uma menção de Nilo Ruschel em seu livro Rua da Praia, são poucos os registros da presença do escritor Antoine de Saint-Exupéry em Porto Alegre, embora se saiba que o então piloto do correio aéreo passou algumas vezes pela Capital gaúcha. Mas os jornais da época, hoje facilmente acessíveis na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, noticiaram aqueles voos pioneiros. Em O Jornal, do Rio de Janeiro, publicado entre 1919 e 1974, encontrei uma notícia sobre a passagem do autor de O Pequeno Príncipe por aqui no dia 16 de abril de 1930. Ainda não havia escrito sua obra célebre, concluída apenas em 1943, meses antes do seu desaparecimento em 31 de julho de 1944, quando seu avião foi abatido sobre o mar de Marselha na Segunda Guerra Mundial.
A notícia de O Jornal se refere à inauguração da linha entre as capitais da Argentina e do Brasil (então Rio de Janeiro): O Piloto e os Passageiros —Porto Alegre, 16 (O Jornal) — Passou por esta cidade, fazendo ligeira parada e continuando voo para Florianópolis, o avião Late 28, da Companhia Aeropostale, dirigido pelo piloto Antoine de Saint-Exupéry, que inicia a linha de turismo entre Buenos Aires e Rio de Janeiro, com os seguintes passageiros... E identifica jornalistas argentinos e funcionários dos Correios e do Centro de Aviação Civil. Há, portanto, registro no jornal e até imagem do escritor feita no dia em que ele esteve aqui, ainda que a fotografia do avião de dos tripulantes seja da chegada ao Rio.
Há também muitas lendas brasileiras sobre o francês. Em Floripa, na praia do Campeche, ele recebeu o apelido de Zé Perri dos pescadores que acendiam luzes em torno da pista para facilitar suas aterrissagens noturnas — e daí teria se originado o acendedor de lampiões do livro. Em Natal, um baobá é considerado o modelo das árvores da história. Tem ainda a Pedra do Elefante, no Rio, com desenho semelhante ao da jiboia que engoliu o paquiderme.
É difícil saber exatamente quantas vezes Exupéry esteve em Porto Alegre, mas já começo a desconfiar que ele tenha levado de nossa cidade a inspiração para aquela passagem do livro famoso em que o principezinho observa 44 vezes o pôr do sol para espantar a tristeza.