Ressuscitamos o Barão de Itararé. Por iniciativa da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), da qual sou conselheiro, incluímos na nossa programação da Feira do Livro o que suponho seja a maior entrevista coletiva póstuma da história do jornalismo.
O entrevistado foi o gaúcho Apparício Torelly, falecido há exatos 50 anos, que passou à história como Barão de Itararé, título auto-outorgado por alegada bravura numa batalha que nunca ocorreu. E os entrevistadores foram 50 jornalistas atuantes em diversos veículos do Estado, integrantes da ARI e convidados.
Todos foram desafiados a fazer perguntas para respostas já existentes — as célebres máximas e mínimas deixadas por Torelly nos vários jornais em que trabalhou. Foi bem divertido. Primeiro, porque é uma delícia reler trocadilhos e frases engraçadas que ainda mantêm atualidade. Segundo, porque alguns colegas de ofício estranhavam a proposta e me perguntavam:
— Quanto tempo eu tenho para fazer a pergunta?
Ao que eu respondia:
— Cinco minutos! Um jornalista não precisa mais do que isso para perguntar.
Apparício Torelly, ou Aporelly, como ele também se assinava antes de incorporar definitivamente o personagem Barão, era rápido e letal no gatilho da palavra. Desde garoto. Na adolescência, estudante de um internato em São Leopoldo, ele foi desafiado pelo professor Oswaldo Vergara a fazer uma frase com o verbo no tempo mais-que-perfeito. Lascou:
— O burro vergara ao peso da carga.
Só não foi punido porque o professor, depois dos risos da classe, teve que admitir a correção da resposta.
Como jornalista, Apparício Torelly consagrou-se nacionalmente, criticou e satirizou poderosos, posicionou-se politicamente e acabou preso durante o governo de Getúlio Vargas. Também foi espancado por militares da Marinha, reagindo com a ironia de sempre. Na volta ao jornal, pendurou um cartaz na porta de sua sala: "Entre sem bater".
Esse também é o título de sua melhor biografia, escrita pelo jornalista carioca Cláudio Figueiredo, em 2012. Deve existir algum exemplar entre os livros usados da Feira. Vale cada linha. E a entrevista póstuma do Barão pode ser lida no site e no Facebook da ARI.