Meu Big Brother preferido continua sendo o do livro de George Orwell, que, aliás, serviu de inspiração para o holandês que criou o formato deste programa apreciado por milhares de telespectadores e menosprezado por outros tantos. Cada vez que começa uma nova temporada do reality show que a Globo vem apresentando desde 2002, um questionamento me intriga: por que tantas pessoas gostam de ver seus semelhantes confinados naquela gaiola de ouro com piscina e salão de festa?
Sei que existem verdadeiros tratados sociológicos e antropológicos sobre o assunto, além das sempre imaginosas teorias da conspiração, todos tentando explicar este enigma do comportamento humano. Sem a mínima intenção de ser original, alinho-me à tese simplista do gosto pelo julgamento. Como diz o ditado popular ampliado, de médico, juiz e louco todo mundo tem um pouco.
Somos julgadores por natureza. Ainda que a sensatez, como um grilo falante, nos diga o tempo todo que não devemos julgar os outros, é o que fazemos o tempo todo. Julgamos pela aparência, pelas palavras, pelos silêncios, pelo timbre de voz, pelos gestos e, principalmente, pelo nosso próprio olhar, até porque nos espelhamos nos outros para nos sentirmos diferentes e únicos.
O programa estimula deliberadamente esta nossa vocação de juiz (e, às vezes, de verdugo ao mesmo tempo). O bordão dos apresentadores, "vamos dar uma espiadinha", pode ser traduzido por "observe e julgue". Mesmo quem não se dá ao trabalho de votar pela internet acaba fazendo um julgamento particular, considerando certa ou errada determinada eliminação ou exclamando um "bem feito!" silencioso quando o vilão vai para o paredão.
Claro, sempre tem a alternativa de não assistir. Mas o BBB costuma gerar tanta repercussão, tantas notícias na mídia tradicional e tantos comentários das redes sociais que ninguém consegue ficar totalmente alheio ao assunto. A teletela de 1984 nos acompanha o tempo todo. Querendo ou não, integramos de alguma maneira este grande tribunal do júri formado a cada ano para decidir se o senhor Winston Smith merece prêmio ou castigo.
Sempre mantenho a esperança de que tamanha audiência acabe estimulando mais gente a ler o livro.