As nuvens do Cléo Kuhn não nos deixaram ver o eclipse da última sexta-feira em Porto Alegre, mas imagens produzidas em outros Estados e em outros países comprovam que o fenômeno - o maior do século - começou e terminou exatamente como os cientistas previram. Habitantes dos seis continentes puderam ver com os próprios olhos o mergulho da Lua na sombra da Terra. Eu não vi, pelas circunstâncias referidas, mas não tenho por que duvidar do farto noticiário a respeito do assunto. Também não vi o homem desembarcando na Lua, em 1969, pois sequer tinha televisão em casa naqueles tempos pré-históricos, mas acredito nos registros amplamente divulgados sobre a fantástica aventura dos astronautas norte-americanos. Porém, tem gente - muita gente, inclusive gente ilustre - que não acredita.
Na noite da Lua de Sangue, o goleiro Iker Casillas, campeão mundial pela Espanha em 2010 e, atualmente, guarda-redes do Futebol Clube do Porto, jantava com amigos quando o assunto entrou em discussão. Aí, o atleta, que se tornou célebre por ganhar uma Copa e beijar a linda repórter Sara Carbonero (então, sua namorada e, depois, esposa) durante uma entrevista ao vivo, resolveu passar para seus quase 9 milhões de seguidores no Twitter uma questão, digamos, astronômica. Traduzo livremente o que escreveu o goleirão:
– No ano que vem, serão comemorados os 50 anos da chegada do homem à Lua. Vocês acreditam que o homem realmente pisou lá? Eu não acredito.
Mais de 300 mil tuiteiros se manifestaram e o resultado não foi muito folgado para os crentes na ciência: 58%. Os outros 42% acham que aquela foto da pegada de Neil Armstrong no solo lunar é uma montagem e que as imagens divulgadas pela Nasa são falsas. Sinceramente, pensava que este Gre-Nal de torcidas por russos e americanos tinha terminado com a Guerra Fria, mas parece que não. Nem as viagens multinacionais de astronautas nem a amizade colorida entre Trump e Putin encerraram o debate.
Casillas não é propriamente uma autoridade no assunto, mas sua provocação causou tanta repercussão, que até o ministro de Ciência, Inovação e Universidades da Espanha e uma engenheira aeroespacial da Nasa entraram na discussão, ambos para questionar sua crença – ou melhor, sua descrença. A revista National Geographic também mandou para o goleiro algumas fotos da missão Apolo 11, mas não sei se ele se dobrou às evidências. As pessoas acreditam naquilo que querem acreditar.
Há, porém, crenças limitantes, que nos impedem de pensar, de refletir, de ouvir teses contrárias e de alterar nossas próprias opiniões. Sobre esse tema, recomendo a leitura do diálogo Crer ou não Crer, entre o padre Fábio de Melo e o historiador Leandro Karnal, novo colunista deste jornal. Os argumentos são tão inteligentes, que a gente termina a leitura achando que tanto o religioso quanto o ateu têm razão.
Eu creio que o homem pisou na Lua, mas talvez não seja exemplo para ninguém, pois acredito até no Cléo Kuhn.