O mimimi da semana nas redes sociais veio da Sociedade Hípica de Brasília, que ofereceu uma atividade pra lá de polêmica às crianças participantes da colônia de férias de inverno: pintar um cavalo branco com canetas coloridas e tintas. Não estou falando de desenhar um equino numa folha de papel, mas de transformá-lo numa tela viva. O pacífico animal foi inteiramente rabiscado, ganhou crinas vermelhas, contorno preto em torno dos olhos, traços e pintas na cara, corações, caretinhas, estrelas e sóis pelo corpo todo. Alguém fotografou a obra pronta e compartilhou. Buemba! Buemba! As ONGs defensoras dos animais ficaram furiosas e o Ibama foi imediatamente acionado, mas os fiscais já encontraram o cavalo lavado, escovado e, aparentemente, feliz da vida.
Os responsáveis pela Hípica garantem que o bicho não foi maltratado, que a atividade foi planejada em conjunto com a coordenadora pedagógica do estabelecimento e tinha como objetivo aproximar as crianças de um animal de grande porte, de forma afetiva e carinhosa. Garantem, inclusive, que a tinta era atóxica e que as 50 crianças estavam acompanhadas por 15 monitores e instrutores de equitação. Portanto, na visão da entidade, ninguém correu qualquer risco. Já os críticos afirmam que o simples cheiro da tinta perturba o animal, podendo causar alergia quando aplicada na proximidade dos olhos. Alinhados a uma ou outra corrente, internautas passaram a se digladiar ferozmente na internet com comentários como esses:
– Absolutamente injusta a forma como o assunto se espalhou nas redes. Acompanhei a atividade, e tanto as crianças quanto o cavalo adoraram.
– Conversou com o cavalo? Ele te falou que adorou? Bando de retardados. Tem outras formas de aproximar as crianças dos animais.
Estou entre os que consideram uma ideia de jerico pintar um animal, como ocorre de vez em quando com jumentos transformados em zebras por donos metidos a engraçadinhos. Da mesma forma, me parece cruel e desumano tingir pintinhos para seduzir crianças e vendê-los a pais desavisados – prática comum em feiras populares do interior do país. As aves são ainda mais sensíveis à toxidade da tinta. A restrição vale para qualquer bicho, pois os animais serão sempre mais belos com as cores que a natureza lhes proporcionou.
O próprio cavalo tem pelagens diversas bem mais bonitas do que qualquer cor artificial. Em vez de colorir um cavalo branco, os instrutores de Brasília podiam ter ensinado as crianças a identificar baios, alazões, tordilhos, zainos, rosilhos e tobianos, como aprendem desde cedo os gauchinhos das áreas rurais.