Pode ser mais uma previsão furada, mas acho que muito brevemente não teremos mais analfabetos digitais. Não sei se isso é bom ou ruim, mas a verdade é que já diminuiu bastante o abismo entre a vovozada e as gerações que sabiam mais do que os seus pais.
Cheguei a essa conclusão depois de comprar um smartphone especial de idosos para a minha mãe, que tem 94 anos e faz companhia para a sua irmã, de 99. Como as duas longevas senhoras moram sozinhas, o celular passou a ser uma ferramenta indispensável para contato com os parentes e eventuais chamadas de emergência. Uma das funções do aparelho é repetir em áudio os números digitados, para que o usuário fique seguro de ter dedilhado as teclas certas.
Claro que minha mãe e minha tia ainda não chegaram à internet – talvez depois dos 100 cheguem lá, quem sabe? –, mas já aceitam sem espanto quando filhos e netos lhes apresentam os vídeos do mundo na palma da mão. As pesquisas de consumo e mudanças de hábito mostram que idosos de todas as idades se interessam cada vez mais pelas novas tecnologias. Cursos de computação básica fazem sucesso entre os maiores de 60, que aprendem a abrir conta em rede social, a pagar boletos pelo aplicativo do banco e a chamar táxi ou outro serviço de transporte com o toque de dedos na telinha luminosa.
Há estudos, inclusive, que relacionam o uso de tecnologia por idosos com a preservação e a ampliação de suas funções cognitivas, como memória, velocidade de resposta e de raciocínio. Além disso, dizem os especialistas, a familiaridade com a tecnologia melhora a autoestima, a independência e o engajamento social dos vovonautas.
Outro dia estava assistindo a uma entrevista do ex-embaixador Marcos Azambuja, na GloboNews, e ele fez uma observação interessante sobre as diferenças cerebrais entre a geração digital e os usuários tardios. Contou que estava olhando fixo para seu smartphone, tentando decifrar alguma coisa na telinha, quando um neto que o observava perguntou:
– O que houve, vovô? Travou?
Na verdade, confessou depois o experiente diplomata, ele estava apenas usando o aparelho no seu ritmo, necessitando de tempo para fixar a atenção e dar o próximo passo. Como a garotada faz tudo rapidamente, passa o olhar e os polegares com a mesma velocidade sem precisar pensar muito, o menino estranhou. Os nativos digitais executam várias funções ao mesmo tempo.
Quando alguém digita apenas com o indicador e ainda acompanha a escrita com um movimento de língua, está confessando a sua idade.
Ainda assim, o abismo parece ter diminuído muito.
Tem idoso que ainda conversa com o celular. Outro dia, surpreendi uma usuária da minha geração falando baixinho com o aparelho e não pude evitar o riso quando ela deixou escapar este comentário:
– Não gosto quando me mandam esses desenhos que se mexem!
Depois concordei: alguns gifs são mesmo bem enjoadinhos.