Quando a gente pensa que tudo se tornou transparente e previsível neste planeta movido pela tecnologia, surge um drama inacreditável como esse dos meninos presos na caverna da Tailândia. Os 12 adolescentes e seu jovem treinador saíram para uma excursão de escoteiros e se transformaram em protagonistas involuntários de uma aventura planetária, que atrai a atenção e comove expressiva parcela da humanidade. Ainda há riscos, mas o filme de terror deu lugar a uma gigantesca ação de resgate que revela o melhor do ser humano, o esforço de equipes internacionais para salvar vidas e a corrente de solidariedade e orações de quem acompanha o episódio a distância.
É o assunto que mais me tem interessado em meio às repetitivas notícias sobre Copa do Mundo, crise econômica e corrupção. Leio e assisto a tudo o que posso sobre os integrantes do time de futebol retido no interior da gruta, bloqueados pela água que acabou sendo, ao mesmo tempo, castigo e salvação. A água impediu-os de sair, mas os manteve hidratados durante os nove dias sem alimentação até a chegada dos mergulhadores britânicos.
O vídeo que mostra o primeiro encontro dos socorristas com os garotos já virou um registro para a História. Se tudo correr bem – e haverá de correr –, será a principal cena dos filmes que certamente documentarão a insólita aventura. Pelo que li no jornal tailandês The Nation, destacou-se neste episódio um herói da vida real, o garoto Adul Samorn, de 14 anos, que serviu de intérprete entre os britânicos e seus companheiros de infortúnio. O menino nasceu numa família muito pobre de Mianmar, mas vive na Tailândia aos cuidados de uma organização religiosa. No contato com estrangeiros, ele aprendeu a se comunicar em quatro idiomas – tailandês, inglês, chinês e birmanês –, o que foi fundamental para o contato inicial com os mergulhadores.
Sou leigo no assunto, mas a cena dos garotos amontoados numa pedra, iluminados pelos capacetes dos recém-chegados e tendo suas sombras projetadas nas paredes da gruta, me faz pensar no Mito da Caverna, de Platão, famosa alegoria filosófica sobre conhecimento e ignorância. E o detalhe do menino poliglota parece reforçar a tese de que o conhecimento liberta.
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O desafio de Tite – diz uma ótima reportagem do jornal espanhol El País – é fazer a Seleção Brasileira jogar como a de 1982 e ganhar como a de 1994. Gosto das comparações, pois o treinador já mostrou que é um defensor do jogo bonito e leal, sem deixar de ser competitivo. Claro que os valores individuais são incomparáveis. O time de 1982, abatido por uma fatalidade (o momento iluminado do italiano Paolo Rossi), tinha mais craques do que o atual. O time de 1994, favorecido por adversários relativamente frágeis, era mais valente.
Que adversário teria coragem para pisar no pé de Dunga quando ele estivesse caído? E, se o fizesse, dificilmente veria uma encenação teatral. O mais provável até é que passasse a não enxergar direito por algum tempo.