O árbitro de vídeo já é o principal personagem desta Copa. Não há dúvida de que o olhar eletrônico, potencializado pela filmagem de diversos ângulos e pelos múltiplos recursos da edição de vídeo, ganha de goleada do olho humano. E o saldo das intervenções do chamado VAR (vídeo assistant referee ou árbitro assistente de vídeo), até agora, é bastante positivo: algumas injustiças já foram corrigidas em tempo. Mas nem todas. A tecnologia é precisa, mas não infalível, pois ainda não consegue interpretar sentimentos e intenções.
Para nós, brasileiros, o caso mais evidente de omissão tecnológica foi o do gol da Suíça, na estreia da Seleção de Tite. As imagens não deixam qualquer dúvida de que o jogador suíço colocou as duas mãos nas costas do zagueiro brasileiro e o empurrou. Até se pode discutir se o empurrão foi suficiente para retirar o defensor da jogada, mas esse é um detalhe tão subjetivo, que nem deveria ser considerado. Afinal, quando um jogador puxa a camisa do outro, mesmo que de leve, sem impedir movimento ou causar desequilíbrio, os árbitros marcam falta imediatamente e, na maioria das vezes, até advertem o agarrador com cartão amarelo. Então, por que relevar o empurrãozinho?
Claro que, no caso referido, a falha foi humana.
O juiz sequer quis rever o lance que o telão do estádio exibiu mais de uma vez para o público, evidenciando a irregularidade. E, mais tarde, sua decisão foi chancelada pela cúpula de arbitragem da Fifa.
De onde se conclui que a tecnologia resolve dúvidas, mas ainda é insuficiente para derrotar a soberba.
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O angustiante do novo sistema de revisão no futebol é o tempo transcorrido entre o lance e a interrupção do jogo. No tênis e no vôlei, que inspiraram a inovação, as disputas ficam paralisadas até a dúvida ser dirimida. Mas no futebol a bola continua rolando até que o árbitro de campo seja comunicado por seus colegas revisores. Ainda não aconteceu, mas é grande o risco de alguma ocorrência importante da partida ter que ser anulada pela rebobinagem em tempo real.
Ainda assim, o tribunal do vídeo representa um avanço em termos de justiça. Reduz, significativamente, o risco de um jogo ou um campeonato serem decididos por erro de arbitragem, num esporte em que o mediador faz julgamentos sumários e irrecorríveis. Aliás, isso já aconteceu até mesmo em Copas do Mundo. Agora, pelo menos, há um grau de recurso, que até pode ser polêmico, mas é uma chance a mais para a verdade prevalecer.
O certo é que o futebol ganhou um pouco mais de transparência e civilidade. Quando um juiz ergue os indicadores para desenhar no ar aquela imaginária tela de tevê, está também confessando em público que pode ter cometido um erro. Sempre tenho a impressão de que eles fazem isso de má vontade, pois ainda não vi um árbitro tomar a iniciativa de provocar o recurso. Ainda assim, submetendo-se à revisão, eles se tornam menos prepotentes e mais humanos aos olhos da opinião pública, que costuma ser uma suprema corte nos seus julgamentos invariavelmente movidos pela paixão.