A decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de empurrar o projeto que anistia golpistas do 8 de Janeiro para uma comissão especial está diretamente ligada às articulações para a sua sucessão no cargo. O texto estava na pauta de votações desta terça-feira (29) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Em um movimento que agrada ao governo, Lira determinou, na prática, que a discussão volte à estaca zero. Com isso, busca consolidar o apoio do Planalto ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para presidência da Casa.
Com poder quase absoluto sobre a pauta da Câmara, Lira deixou a CCJ trabalhar livremente nas últimas semanas. Com isso, reforçou ao governo um recado que já dera outras vezes: sua influência na Casa ainda é forte e seu empenho é indispensável para determinar o ritmo de tramitação de cada projeto.
Formada por maioria bolsonarista, a comissão aproveitou a liberdade para avançar em projetos que reduzem o poder do Supremo Tribunal Federal (STF) e facilitam impeachment de ministros da Corte. Nesta terça, a tendência era aprovar com facilidade a anistia aos manifestantes, deixando o projeto pronto para votação em plenário.
Embora a legalidade da anistia seja alvo de questionamentos, a votação do projeto deveria reforçar o apelo para que o ex-presidente Jair Bolsonaro seja liberado para concorrer nas eleições de 2026.
Lira sabe que o adiamento da votação cria desgaste com parlamentares do PL e com integrantes de outros partidos de direita que simpatizam com o ex-presidente. Contudo, o movimento não foi feito de forma impensada. Na segunda-feira (28), o presidente da Câmara fez uma série de reuniões com lideranças para discutir sua sucessão, inclusive com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
O cacique que manda no partido de Bolsonaro defende uma aproximação com o centro, e tem criticado decisões mais radicais do ex-presidente e seus seguidores.
Lira e Motta trabalharam intensamente nas últimas semanas em busca de consenso para a presidência da Câmara. A estratégia avançou nesta terça, mas ainda será necessário vencer a forte resistência demonstrada até aqui por outros dois candidatos fortes: Elmar Nascimento (União-BA) e Antonio Brito (PSD-BA).