Após sucessivos adiamentos, agora o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), promete anunciar em novembro o seu candidato para sucessão no cargo. A eleição na Casa ocorrerá apenas no ano que vem, mas o próprio Lira havia prometido a definição para agosto. Na prática, o atual presidente viu que seu poder absoluto sobre os deputados está minguando, e encontrou uma forte resistência à estratégia de criar “consenso” em torno de Hugo Motta (Republicanos-PB).
Nesta segunda-feira (21), Lira e Motta foram juntos a um evento do agronegócio em São Paulo. Embora os dois tenham estabelecido um estreito contato nas últimas semanas, são poucas as aparições públicas lado a lado. Abordado por jornalistas, Lira evitou admitir que Motta é seu candidato e admitiu que tem dado poucas entrevistas para não ter de falar neste assunto.
Motta também escolheu falar pouco, mas demostrou “confiança” sobre a construção de uma “candidatura de consenso da extrema direita à extrema esquerda”.
No início de setembro, Lira se uniu nos bastidores a outras lideranças do centrão e fez um movimento combinado com o presidente Lula: a substituição do candidato do Republicanos na disputa. Para vencer as resistências ao nome do presidente do partido, Marcos Pereira, optou-se pela candidatura de Motta – que teria mais facilidade de transitar entre diferentes grupos políticos.
Para o plano dar certo, era preciso convencer Elmar Nascimento (União-BA), um dos homens mais próximos a Lira no parlamento, e Antonio Brito (PSD-BA), que é sustentado pelo presidente de seu partido, Gilberto Kassab. Até agora, a dupla não apenas resistiu, mas dobrou a aposta. No final de semana, os dois subiram juntos no palanque do candidato do PT à prefeitura de Fortaleza – algo impensável no caso de Elmar, que tem um passado de oposição ferrenha a Lula e seus aliados.
Nos últimos anos, Lira deu muitas demonstrações de domínio da Câmara. Coordenou votações, definiu o que era ou não prioridade, organizou como quis a composição de comissões. A empreitada para fazer o sucessor e continuar relevante na casa, contudo, se mostra complexa. E a dificuldade de levar seu plano adiante é prova de que o seu protagonismo também está colocado à prova.