Os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Jr, à Polícia Federal (PF) são estarrecedores. Os oficiais contaram em detalhes que, após ser derrotado nas urnas, o ex-presidente Jair Bolsonaro apresentou a eles propostas para romper com o regime democrático e impedir a posse de Lula. Não se trata do depoimento de um mero assessor ou um desafeto político. As revelações são de dois oficiais de alta patente escolhidos pelo próprio Bolsonaro para comandar as Forças Armadas.
É óbvio, mas não custa lembrar, que há uma grande diferença entre questionar o resultado das urnas em vídeos na internet e reunir os comandantes militares com uma proposta concreta de intervenção. O plano não foi adiante por falta de apoio, mas o firme compromisso constitucional não foi seguido por todos os militares. Baptista Junior afirmou à PF que o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, assegurou a Bolsonaro que colocaria as suas tropas à disposição para que ele se mantivesse no poder.
Nas reuniões em que tentou convencer os comandantes a apoiarem o golpe de Estado, Bolsonaro carregava a minuta de um texto que depois foi encontrado pela PF na casa do ex-ministro da Justiça e Segurança, Anderson Torres.
Segundo o ex-comandante do Exército, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, também apresentou um documento mais abrangente que previa decretação de estado de defesa no país para criação da “Comissão de Regularidade Eleitoral”, que iria apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral.
Além de confirmarem as informações levadas à PF pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que fechou um acordo de delação premiada, as declarações dos ex-comandantes retiram qualquer dúvida de que Bolsonaro e a cúpula de seu governo trabalharam exclusivamente nos últimos meses de governo para romperem com o regime democrático e continuarem no poder.