
A viagem que o presidente Lula realiza pela Ásia pode terminar como uma das mais produtivas dentro de sua extensa agenda internacional deste terceiro mandato. Segundo empresários ouvidos pela coluna, houve avanços concretos nas reuniões realizadas nesta semana visando acordos comerciais, especialmente para a exportação de carne — mercado no qual o Brasil é referência e ainda conta com grande potencial.
Sem entrar em detalhes, Lula anunciou nesta sexta-feira (28) que o Vietnã vai comprar carne brasileira “pela primeira vez”. A ideia é que o país possa se tornar um centro regional para as operações de processamento de carnes. O presidente também revelou avanços em negociações para que o Vietnã compre aviões Embraer.
As exportações brasileiras sofrem restrições na Ásia desde 2017, devido a preocupações sanitárias e de qualidade influenciadas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal (PF). À época, a investigação apurou irregularidades em frigoríficos brasileiros. Os avanços desta semana foram celebrados por representantes dos produtores.
“Trata-se de um mercado com potencial de cerca de 300 mil toneladas, que pode se tornar um grande hub para a Ásia e o sudeste asiático. Com essa conquista, o produtor e a indústria brasileira da carne bovina ganham mais uma importante oportunidade de diversificação de mercados”, afirmou, em nota, Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), se referindo ao Vietnã.
A Abiec garante que o aumento de exportações não teria impacto negativo para os consumidores brasileiros porque a maior demanda na Ásia é por cortes dianteiros como acém, peito e paleta. O mercado interno valoriza mais cortes traseiros, como picanha e alcatra. Essa divisão, diz a entidade, traz rentabilidade, agrega valor e otimiza o uso de cada parte do animal.
No Japão, Lula disse que a relação do país com o Brasil “mudou de patamar” a partir das agendas desta semana. A julgar pelos memorandos assinados e pelas declarações do primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, é possível concluir que, de fato, houve avanços concretos.
Além da carne bovina, há interesse dos japoneses, por exemplo, no biodiesel. Equipes de técnicos do país asiático devem colher mais informações sobre a proteína brasileira a partir dos acordos.
Mais de cem empresários brasileiros participaram de agendas com autoridades asiáticas nos últimos dias.